UMA VIDA
82 Anos de vida, 63 de casada. O que dei, o que recebi? Qual
foi o saldo dessa troca? Neste momento, de cérebro frio e espirito isento,
penso que foi uma permuta justa.
Fui uma criança feliz? As
crianças não são felizes ou infelizes: estão contentes ou contrariadas.Tive uma
infância solitária, apesar de rodeada por uma grande família.mas a solidão pode
ser enorme mesmo no meio de muita gente. Quando fomos viver para Braga a
situação modificou-se. Entrei
num colégio particular frequentado pelas filhas dos novos amigos dos meus pais
e a nossa vivência social ganhou horizontes diferentes através do contacto
desses amigos.
Como adolescente
tive momentos completamente a meu gosto, outros mais melancólicos. Na altura
podem ter constituído um drama, mas nunca causaram no meu espirito um verdadeiro
desgosto, embora algumas vezes beliscassem o meu EGO.
Quanto ao casamento, só ao fim de muitos anos
aprendi que, se temos que aceitar os pais que Deus nos deu, os maridos somos
nós que os escolhemos maior parte das
vezes escolhemos com o coração e ainda mais por atração física.Não pensamos que a finalidade da união entre
um homem e uma mulher, confirmada pelo Estado e por uma Crença Religiosa que
faça parte do seu dia-a-dia, é muito mais que um romance cor-de-rosa onde os
dois serão eternamente felizes. Poucos nos alertam para o mar de contrariedades
que significa viver a dois e mais tarde a três ou quatro. E mesmo que o
fizessem, não acreditaríamos. Achamos que as vozes que nos previnem para a
diferença entre o ser no qual só vemos perfeições e aquele com quem iremos
viver com as suas qualidades e defeitos são coisas de gente insensível. Aceitei
mal algumas nuvens escuras que turvaram a minha união sem perceber que a maior
culpada de todas as dificuldades que tive, fui eu própria
.Posso
dizer que duma maneira geral, a minha vida foi quase sempre afortunada, Tive
dois filhos que aceitaram os meus defeitos tal como aceitei os deles, que me
deram netos e bisnetos que alegram a minha velhice.Tive amigos sinceros que me
provaram muitas vezes vezes a sua amizade e que me proporcionaram dos mais
agradáveis momentos da minha vida. Há 82 anos que habito este planeta azul, o
que me deu tempo para pensar e tornar-me um pouco mais avisada e prudente.
Sempre vivi sem necessidades materiais,Viajei,não muito mas o suficiente para
fazer comparações muito uteis para encarar os outros seres humanos com mais
compreensão.
Sim,
tive e tenho uma vida feliz, e com a idade, aceitei que o preço que paguei por
isso, foi absolutamente acessível
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