A VERGONHA DOS JUSTOS
Não garanto que todas as pessoas que viajavam naquela carruagem fossem justos, mas aparentavam ser pessoas decentes e todos olhavam com desaprovação o rapaz cabeludo, tatuado, arrogante, cujos pés sujos, enfiados em sandálias de cabedal, repousavam ostensivamente no assento fronteiro Este, mastigando pastilha elástica, acomodava os tais pés no banco, roçando-os no estofo. Uma senhora que poderia ser avó dele, se é que tal espécime merecia ter uma avó, disse-lhe com a autoridade que a idade lhe conferia: - jovem,tire os pés do banco. Quando alguém se sentar, vai sujar-se. O jovem, mais homem que jovem, continuou com os pés ainda mais estendidos sobre o banco e respondeu: -vá-se lixar! E nós ali, calados, comprometidos, eu mais comprometida que ninguém, por não ter avançado em defesa da velha senhora. Por cobardia, pelo medo de ser agredida verbalmente. Olhávamos uns para os outros envergonhados perante as lágrimas silenciosas que escorriam pelo seu rosto, num silêncio que nos incom