A PRIMAVERA
Se fosse possível viver cem anos, cem vezes sentiria este deslumbramento interior que é a chegada da Primavera e do Outono. O verão e o Inverno considero-os como conhecidos a quem se tolera mas sem qualquer afeição ou desejo que cheguem. A Primavera que eu sinto, não é só reconhecível por flores e passarinhos. Nunca me comovi com a chegada das andorinhas, animaizinhos diligentes mas bastante porcos, nem com o desabrochar das flores. São os cheiros, a tepidez do ar, o vasto leque de cores que tanto a Primavera como o Outono oferecem aos meus olhos que me encantam. Começo a aperceber-me que primavera vai chegar, pelo ar morno que uma certa manhã chega através da minha janela. Vou à varanda e as flores estão todas arrebitadas porque sabem que a partir dali tudo lhes será favorável. Acabaram os grandes frios, as noites começarão a ficar suaves e mesmo que eu me esqueça de regá-las um dia, nada acontecerá de grave. A caminho do Paredão, no velho jardim de Paço de Arcos, os relvados parecem