PONTOS DE INTERROGAÇÃO



Quantos seremos aqueles que na velhice temos a felicidade de viver em Paz com nós próprios, com a Família, com o Mundo? Porque depois dos oitenta é só o que desejamos: Viver em Paz. Acabaram-se os desejos de viagens, de cinemas, de concertos, de restaurantes, até as grandes festas familiares, se forem muitas, tornam-se pouco atraentes.Com  algumas excepções,depois dos 80 o corpo começa a sentir o peso da idade, das maluqueiras que cometeu, do pouco cuidado com a saúde, incluindo o famoso “5 minutos de prazer,5 quilos de mal fazer”. Quanto ao cérebro, mesmo poucos que sejam, também sofre danos, principalmente naqueles que não souberam usá-lo. QUERER não é PODER, mas muitos, antes de atingir essa fase etária onde não se volta para trás, conseguiram organizar a sus vida material de modo a poderem gozar uma relativa tranquilidade. Mas quanto ao nosso EU esse “eu” que António Dâmaso define a nossa consciência, como a organizámos? Teremos sido capazes de conservar amigos, poucos mas bons? Teremos compreendido que os filhos, as noras, os genros, os netos não estão às nossas ordens e partilham mal as nossas conversas, as nossas memórias, os nossos desejos? Esse lamento ambíguo que usamos, por não telefonarem, não enviarem e-mails, não encherem m a nossa página do Facebook de carinhos e retratos, não terá algo de egoísmo? Claro que tem, porque sabemos que estão bem, mas vivendo a sua vida atarefada. Na verdade o que queremos é mimos, que se ocupem de nós. Mas quando eramos da idade deles, quantas vezes o fizemos com os nossos pais e avós,expontaneamente,por pura amizade? Tínhamos a nossa vida, os nossos problemas para resolver, os alegres convívios com amigos, onde os idosos “talvez se sentissem fora do ambiente “era a desculpa normalmente usada. É verdade que os nossos rebentos por vezes não compreendam que na nossa idade estamos um pouco” chonés”, comodistas e preguiçosos Gostamos das nossas coisas, dos nossos cantos, da rotina confortável do dia-a-dia. Também com os anos, os temperamentos se modificam, tanto os dos pais como os dos filhos. Por isso perguntei quantos de nós teremos a felicidade de viver em Paz com nós próprios, com a Família, com o Mundo? Quantos saberemos que para estar em paz teremos que abdicar de muito, de aceitar algumas coisas que nos incomodam e esperar que os nossos filhos e netos, nos amem o suficiente para serem pacientes e gentis, apesar dos nossos possíveis erros para com eles, das nossas manias, dos trabalhos que muitas vezes lhes damos.



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