O MEU UlTIMO DIA DO ANO


Toda a época Natalicia,desde o primeiro Domingo do Advento até aos Reis,tem grande significado para mim embora em planos diferentes. O Advento significa para mim a Família, o que ela devia significar em amor, lealdade, sacrifício ou Júbilo. Eu sei que hoje poucas famílias são assim, mas à medida que a sociedade se corrompe, que os valores reais se alteram, serão as famílias que resistirem, sem confundir amor com cedências, liberdade com libertinagem, a única esperança  O Natal é um louvor à ingenuidade, à pureza que existe nas crianças e até em alguns adultos e o recordar de todos os momentos bons que essa época me ofereceu
Mas o ultimo dia do Ano é o meu Yom Kipur o dia da Expiação quando eu penso no que fiz de mal e de bem e no que poderia ter feito. A consciência ocupa em nós mais lugar do que julgamos e se conseguirmos ouvi-la, mesmo que seja um murmúrio, teremos um momento pesado e confrangedor.Ninguém é perfeito, mas analisar como erramos e somos egoístas nas nossas releções com os outros,a maneira perversa como achamos que a culpa do que nos acontece é motivada pelo nosso próximo e não nossa, como dizemos hipocritamente que o que dissemos foi para bem do outro, mesmo que as nossas palavras sejam extremamente cruéis. Não é nos grandes actos que pecamos mais. Dificilmente um ser humano normal pode roubar ou matar. Mas pode enganar, humilhar e acima de tudo ser tão egocêntrico, tão arregotante que as pessoas â sua volta nada contam
Estarei eu carregada de tantos pecados? Tenho de todos um pouco. Sou egoísta quando tendo por costume telefonar todos os domingos à mina amiga Lita, desde que o Francisco teve o AVC do qual morreu  em Novembro,por simples preguiça, ou porque estou a fazer qualquer coisa de interesse no computador,penso:telefono-lhe no próximo sábado ou domingo. Não me interessa quanto seria bom para ela termos a habitual conversa sobre os meus filhos  netos e bisnetos, os sobrinhos dela, dos tempos quando
 (há cinquenta anos)  fazíamos campismo em Sines, mesmo sabendo que neste momento é o único consolo que ela tem, aparte a família, claro. Quantas vezes me arrependo de não ter prestado a atenção à minha amiga Odete num adiantado estado de Parkinson,ter olhado com alheia simpatia os pequenos mimos toscos que ela me oferecia. Devia ter olhado para eles como barras de ouro, porque eram o símbolo da grande amizade, mesmo com as suas enormes deficiências, ela sentia por mim. E não há contrição que valha pois faz amanhã um ano que ela morreu e não é possível emendar o que fiz. Recordo demasiado o mal que me fizerem e, pior que isso, não esqueço e muito pouco o mal que causei, descartando-me sempre com o meu signo de Escorpião “não me pisem que eu não espeto o meu ferrão envenanado”. Tenho pouca paciência com os outros e demasiada com a minha lentidão em suportar as atitudes deles. E por aí fora.
Este ultimo dia do ano é para mim muito pesado. Tenho idade suficiente para não  fingir ignorar defeitos e procurar desculpas. Mas de certa maneira, também é um alivio, pois só por reconhecer isto, embora seja aqui no meu blogue que ninguém lê,já sou senão melhor, pelo menos mais sincera.

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