RECORDAÇÕES DUMA BISAVÓ ENQUANTO JOVEM


Quando falo da minha juventude,parece-me que está acontecer neste momento, e  esqueço-meque Braga, há sessenta anos, a mais conservadora e burguesa cidade do Minho, nada deve ter de semelhante à cidade de hoje. Mas fui tão feliz durante esses anos, que continuo a pensar que tive uma mocidade muito mais feliz do que os jovens do seculo XXI, incutindo os meus netos.
 Chegado o grotesco carnal dos nossos dias (na generalidade, porque acredito que ainda há pessoas e locais onde o Carnaval é apenas tempo de divertimento e de graça e não de caricaturas grosseira e de pobres moças tremendo de frio) relembro com saudade o Carnaval da minha juventude.
 Ele era dividido em três “actos”:o Carnaval dos aristocratas que davam bailes em suas casas, por vezes com bastante sacrifício pois a nobreza era maior que as posses,o  Carnaval dos burgueses, e o Carnaval do povo.Os meus pais e os amigos estavam situados na classe do meio e como tal agiam em todas as ocasiões. No Carnaval,o costume era Os “assaltos” a casa duna amigos
.Esse ASSALTOS nada tinha de imprevisto.Pelo contrário era muito bem organizado e até havia um pouco de solenidade nessa organização.O grupo de jovens a quem os pais davam toda a liberdade para agir,(com algumas regras
Havia um organizador que decidia se as máscaras eram livres ou obrigadas a tema, definia igualmente as ofertas que cada um levava:  as raparigas levavam flores,bordados,ou pinturas feitas por elas que eram oferecidos à dona da casa, os rapazes,objectos que sabiam agradar ao chefe da família assim como os instrumentos do assalto: pés de cabra, enormes martelos, e armas, desde pistolas até a um enorme cavalo de Troia tudo feito, de papelão,  Provisões ninguém levava  a não ser algum doce muito especial, porque os “assaltados” tinham preparado farta mesa para os assaltantes e famílias. Depois da simulação do assalto feitos os cumprimentos e as entregas de presentes, éramos convidados a passar à sala onde decorreria o serão. Dançava-se, Swing, o Rock and Rol  chulas minhotas;.Quem tinha jeito declamava ou interpretava respeitáveis versos alusivos à época e faziam-se sortidas à mesa onde cada um retemperava- se dos folgedos.Quando os papás achavam ser “hora de recolher” era o momento solene da noite. Num silêncio profundo o dono de casa escolhia entre os vários papelinhos dobrados, o nome da próxima casa a ser assaltada e o do organizador do assalto. Recolhíamos  a casa e na terça feira de Carnaval íamos para a rua, assistir ao Carnaval do povo que  decorria nos diversos bairros da cidade e terminava com a leitura do testamento e enterro do Entrudo  sendo o testamento muito divertido pois focava sem malícia as manias dos vizinhos
Regressávamos a casa pelas três pelas três da manhã, estafados,suados,esfomeados, mas muito felizes.
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