RÉQUIEM POR UMA AMIGA


2013 para mim entrou muito mal. Perdi uma amiga de muitos anos, mais de quarenta, e como sempre pensei, triste não é a velhice: triste é vermos partir os amigos. É verdade que a Odete Pacheco sofria da doença de Parkinson e nada tinha que ver com aquele mulher, mais rapariga que mulher, pela sua alegria, sempre pronta a ajudar, sempre bem-disposta, fingindo muitas vezes não ver os defeitos dos outros, com quem convivi sempre sem arrufos ou hipocrisias. Ela e o marido faziam parte daquela série de casais amigos. a quem eu por brincadeira chamava o Grupo da Maresia, pelos nossos maridos terem partilhado juntos a vida do Mar. Curiosamente neste ultimo ano, vendo-a perder dia para dia as suas faculdades mentais, cada vez movendo-se com tanta dificuldade que acabou quase sempre usando a cadeira de rodas, falando de tal modo atabalhoadamente que nem eu nem o marido a compreendíamos, numa ansia de comunicação que ignorávamos até que ponto ela percebia a nossa incompreensão, muitas vezes afligi-me com a Ideia de a ver, paralisada numa cama numa morte lenta, que desejei que antes disso ela morresse verdadeiramente. Quando o marido me deu a notícia, foi um choque e um alívio. Um choque, porque há muitos, muitos anos, no dia  31 de Dezembro  almoçávamos juntos, em minha casa para festejar o Ano que entrava e assim fizemos este ano.Ela estava feliz, com o seu ar meio abstrato,  o seu eterno sorriso quer a conversa fosse animada ou melancólica. Fui ajuda-la a caminhar até a casa(somos vizinhos)trocámos o beijinhos dos quais tanto gostava e foi a ultima vez que a vi.Agora,que os dias vão passando, recordo-a com muita saudade, com  um arrependimento real de por vezes não lhe ter dado a atenção que ela merecia, recordo-a como ela  sempre era: gentil, sorridente, feliz, amiga de todas a gente, imensamente estimada e acarinhada por todos.

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