O SERMÃO DO BOM LADRÃO
Como estamos na Quaresma e meditar na sua Vida não faz mal a ninguém, católicos ou ateus, achei oportuno editar um dos textos do Sermão do Bom Ladrão, do Padre António Vieira. E o que mais me admirou em todo o sermão é que poderia ter sido escrito hoje, que continuaria a ser oportuno
O Sermão do Bom Ladrão, foi escrito em 1655, pelo Padre Antônio Vieira. Ele proferiu este sermão na Igreja da Misericórdia de Lisboa (Conceição Velha), perante D. João IV e sua corte. Lá também estavam os maiores dignitários do reino, juízes, ministros e conselheiros. Usando o exemplo dos dois ladrões que foram crucificados com Cristo, aproveita a ocasião para se dirigir à ilustre assembleia
O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre e de mais alta esfera; os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento distingue muito bem São Basílio Magno. Não só são ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com mancha, já com forças roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo: os outros se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam.
Abençoado Padre António, que usando sábias palavras falava sem medo, numa época em que não era fácil apontar a dedo a má Administração do Reino mesmo sem nomear as pessoas. Hoje em que tudo é permitido, desde o palavrão a gestos indecorosos nas Cortes, disseca-se vida de cada um, rouba-se abertamente sem medo de punição, não se ergue uma voz serena que responda à pergunta que maior parte dos portugueses (porque a outra parte participou no roubo) fazem: para onde foi o dinheiro, quem o gastou ou guardou, dinheiro que neste momento ,todos nós estamos apagar?
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