pensamentos grandes de gente pequena
Tenho por costume ir passear no” Paredão” ao fim da tarde porque o Pôr do Sol, por vezes, é uma coisa muito bela,calmante,dá para meditar nas coisas boas e más que acontecem na vida. Não ando muito ;normalmente paro nos 2.800 metros onde há um sítio lindo para ver o Rio e o Sol a recolher-se,vestido de dourado Desligo a música, sento-me,e fico a gozar o silencio.Mas ontem, esse silêncio foi interrompido por um miúdo com um skate. Delicadamente,perguntou se podia sentar-se ao meu lado. Espantada (e deliciada) com a delicadeza do jovem, respondi-lhe que teria todo o prazer na companhia dele. A pergunta seguinte, espantou-me:-porquê?Porque gosto de conversar com os jovens e suponho que vamos conversar.-Sentou-se porque estava cansada ou para ver o mar?- as duas coisas: gosto do rio a esta hora e também estou cansada-isso é porque é velha. O meu avô também anda sempre cansado e o meu pai até lhe diz: para ir para a sueca nunca se cansa.Não havia qualquer tom ofensivo nas palavras do rapaz: Para ele, todas as pessoas acima dos 50 anos eram “velhas” e ainda por cima com cabelos brancos! Chegou a 2ª pergunta inesperada -gosta do Coelho? não sabia a qual coelho ele se referia, porque parecia-me demasiado novo para se preocupar com política.Talvez fosse um jogador de futebol. Como não sou versada no tema ,perguntei_-Qual Coelho?-O que vai para ministro.-Não sei não dele, vou esperar para ver as obras-A minha mãe diz que ele é muito giro, mas o meu pai acha é como os outros, vai é tratar de se “encher ” e como temesse que eu não conhecesse o calão, acrescentou: “governar-se- “O meu avô antes queria que ganhasse o Portas. É que ele tem uma casa na aldeia e acha que o Portas é amigo dos agricultores. A minha avó disse que qualquer um servia menos o Jerónimo e o Louçã,que são comunistas e não gostam de Deus nem das Igrejas.Meio baralhada perguntei-e tu, quem é que gostavas que fosse para 1º ministro?-um que me arranjasse uma escola boa, que conseguisse que eu não levasse pancada dos meus colegas mais velhos, que fizesse que a minha avó fosse operada às cataratas mais depressa que está quase cega, que não tirasse o emprego ao meu pai, para a minha mãe continuar em casa a tomar conta de mim, da minha irmã e dos meus avós que o aumentasse para ele poder continuar a ir ao futebol e levar-me com ele. E que nos deixasse estar sossegados, porque lá em casa não se fala noutra coisa senão no que irá acontecer, no que vamos ter que deixar de ter, no sobretudo que o meu pai não vai poder comprar, e como vão comprar os livros para eu e aminha irmã irmos para a escola.
O tempo tinha passado e chegara a hora da despedida.Antes do ultimo adeus perguntei-lhe a idade.Respondeu que tinha 13 anos Correspondi à franqueza, dizendo-lhe a minha: 78. Assobiou e foi dizendo: - É mesmo velha! Mas é fixe!
Resta-me explicar que o diálogo é autentico, porque quando me apercebi que aquele miúdo “tinha qualquer coisa”, liguei o gravador do telemóvel e agora limitei-me a transcreve-lo para o papel.
Para mim,foi uma visão do que se passa na maior parte das famílias portuguesas do seu dia a dia ansioso, do que desejam, do que temem E não consegui deixar de comover-me com as coisas simples que ele aquele miúdo do skate desejava para o seu mundo
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