O DIA DE CASAMENTO

No dia 1 de Março, fiz 59 anos de casada.Normalmente,este primeiro dia é recordado como um talismã, algo que perdurará na nossa memória como um açafate de flores raras.

Há muitos anos que deixei de me lembrar do dia do meu casamento, como uma data de felizes recordações. Mesmo que o casamento seja uma lua-de-mel perpétua," até que a morte nos separe", para a noiva o tal dia é sempre uma estopada

A noite que o antecede é atafulhada de preocupações: se o vestido não assenta bem; se o noivo chega atrasado; se ele própria vai atrasar-se (o carro pode ter um furo); se o padre morre; se ela estiver agoniada; se tropeça no vestido; se as meninas do véu o puxam e ele cai. Quando finalmente consegue adormecer logo toca o despertador para as abluções matinais.

Aí entram as pessoas com sábios conselhos: come muito bem, para não te sentir fraca durante a cerimónia; não comas muito, podes sentir-te mal. Em seguida, a primeira parte da virginal toilette, que, no meu tempo, era mesmo virginal. Não aos decotes, às mangas curtas e se o vestido era de renda, levava corpete e saiote de tafetá morèe.Seguia-se os malfadados sapatos de salto alto, finalmente, a tortura final: o Véu, mais o diadema que o prendia.

Tudo isto era temperado pelo prazer de nos vermos no espelho com um lindo vestido, bem penteadas, vaporosas, mas não o suficiente para o véu deixar de nos incomodar, os sapatos magoarem um bocadinho e continuarmos a pensar como nos iríamos mover aqueles metros de cauda, mais o véu, que ao entrar da igreja tinha que estar sobre o rosto.

E finalmente os últimos beijinhos de solteira. Felizmente a minha mãe, que era uma senhora muito prática achou que beijocar-me iria amarrotar o vestido, deslocar o véu e limitou-se a um beijo leve e a dizer-me:-Tem juízo. Mas com o meu pai foi bem diferente. Ele não resistiu a abraçar-me a chorar e eu fiz outro tanto. Mas outra vez a minha mãe resolveu a situação com um: -deixem-se de pieguices. Ela não vai para freira. Depois disto ninguém mais se atreveu aos beijinhos e eu lá parti, descendo as escadas, entrando no carro sem qualquer percalço. Mas o resto do dia não foi menos maçador. Almoço, discursos, ronda pelas mesas dos convidados e finalmente a troca de vestido e a partida.

A melhor recordação que conservo do dia do meu casamento,é o momento em que já no carro a caminho de Lisboa, o enorme prazer e alivio que senti quando descalcei os sapatos

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