SENTIMENTALISMOS
Tenho que concordar que estou a ficar velha. Velha sim e não idosa, que os velhos é que são piegas e saudosistas. Porque penso assim? Quando escrevo uma introdução a um comentário no Blogue da Família, tanto os Decanos, como eu, e até como até os menos jovens( os meus filhos à parte porque esses são enxertados na boa cepa celta de Penafiel) ficamos com lágrima no olho por recordações simples.
Mas talvez não estejamos a ficar mais velhos, mas mais sensatos. As recordações do passado que nos comovem significam que agora, damos o verdadeiro valor às coisas que preencheram as nossas vidas e que quando mais jovens, pareciam não ter tanta importância.
Voltar a passar o Natal com a Malena, recordou-me tanta coisa! As casas onde me senti feliz;a casa dela, os alegres serões da escolha da Soja, os Natais, acima de tudo os Natais, quando eu e a minha prima Fernanda éramos tão inocentes, que uma vez (tínhamos 6 e sete anos) juramos ambas que tínhamos visto as calças do Pai Natal a desaparecer na chaminé. (em casa do tio Henrique as prendas eram colocadas na chaminé da cozinha, junto do sapato de cada um. À meia noite, o tio Henrique com toda a família atrás, abria solenemente a porta, acendia a luz e nesse dia tínhamos o direito de entrar primeiro que todos e maravilhar-nos não só com as pendas, mas com esse facto mágico dum ser invisível trazer-nos quase todas as coisas que tínhamos pedido.
Tudo isso eu recordei, olhando a Malena sentada ao meu lado, bem diferente da rapariga vestida de chinesa.Recordei os Natais de Braga, quando a tia Alice, uma tia muito pr’a frentex para altura, ir com as três ( a Manela sentia-se demasiado adulta para alinhar nestas aventuras) subir ao” Picoto do Cruzeiro”nas calmas e frias tardes de Dezembro onde as três, quase numa confissão, relatávamos as malandrices que tínhamos feito e acima de tudo, que tínhamos pensado.Lembro-me da tia Alice , a rir, dizer que estávamos absolvidas e que nenhuma de nós iria para o Inferno. por causa dos nossos pecados.
Na noite Natal de 2010,lamentei acima de tudo o tempo que perdemos em afastamentos quase inexplicáveis. Mas como não sou masoquista, reflecti que este tempo que as duas vivemos agora, junto dos nossos filhos crescidos, dos nossos netos, do meu bisneto, é único. É o tempo de quietude que antecede o fim da vida que cada um recebe ao nascer; a vida que teve para nós os seus encantos e os seus tormentos, dificuldades e alegrias, o sentimento, quase de angústia, quando durante toda essa vida, nunca tivemos a certeza ,ao tentar criar os filhos da melhor maneira, se o tínhamos conseguido, porque por vezes apercebíamos-nos que poderíamos ter feito melhor.
E por fim, esta abençoada noite de natal em Oleiros, quando o passado de ambas veio desaguar nas alegres e ruidosas manifestações dos nossos filhos,noras,netos e netas com os seus maridos,o meu bisneto Benjamim,todos eles dizendo-nos, silenciosamente, que a nossa vida tinha merecido ser vivida
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