SER OU NÃO SER




EUTERPE                                 O MEU URSO  'SU' ERA QUSE COM ESTE
MUSA DA LIRICA


O meu marido, meu sócio, meu velho, ou como eu lhe queira chamar, tem o hábito de dizer-me: "nunca deixaste de ser criança", o que quer dizer: Já tinhas idade para ter juízo, ou ‘continuas a ser criança’ equivalente a ’continuas a ser aquela rapariguinha parva e ingénua’, conforme está aborrecido ou satisfeito.


Durante muitos anos, entre os sete e os sessenta,  pensei o contrário, que nunca tinha sido criança.
 Filha única duma mãe senhora de absurdas teorias de 'como educar uma rapariga'e dum pai que atribuía aos homens o dever de trazer dinheiro para casa e às mulheres a tarefa de cuidar da casa e educar os filhos, foi-me exigido desde que me lembro, um comportamento de adulto, ou antes de super adulto, porque eu tinha que pedir licença para me levantar da mesa, dizer obrigada sempre que me era prestado qualquer serviço, durante as refeições falar em voz baixa e de preferência só o fazer quando me fizessem perguntas. estar sossegada sempre que tínhamos ou fazíamos visitas, e mal aprendi a escrever agradecer por escrito (quantas cópias eu fazia na sebenta, antes de escrever no cartãozinho os agradecimentos!) as prendas ou os parabéns que me enviavam com elas. Hoje, penso que muitas dessas regras continuam a ser essenciais à boa convivência entes as pessoas. Mas eu aprendi-as a "ferro e fogo" em tréguas para esquecimentos.


Aos 12, percebi que tinha a ventura de possuir um pai, que não se interessando nada pela forma como eu recebia instrução, contribuía muito para ela, pondo à minha disposição e sem limites, a sua pequena mas bem fornecida biblioteca, fazendo-me participar e apreciar o seu gosto pela musica, ficando inesquecíveis  na minha memória as nossas idas ao Porto, para as temporadas de opera. É certo que numa cidade provinciana mas opulentamente burguesa como era Braga em1945 era muito distinto mais que ser amante das artes musicais  frequentar os locais onde ela se ouvia. Mas também havia um verdadeiro amor à música e isso era bem visível nos discos que tínhamos e casa, desde o jazz até a várias operas as preferidas pelo meu pai, mas também musica clássica, ligeira e folclórica.



Até aos sessenta ,pensava que a minha vida de criança e adolescente, tinha sido muito solitária e adulta.
Mas depois compreendi que sem essa forma de agir sempre acima da idade que tinha, nunca teria conseguido pensar, agir, reagir, da maneira como o faço hoje. E se levei bastantes e duras sovas logo que o comportamento estabelecido pela minha mãe era infringido, creio que o único mal  foi as minhas relações com a minha mãe terem sido frias, distantes, completamente despidas da ternura e camaradagem que observo hoje entre a minha neta Maria e a mãe.



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