AS CRIANÇAS OS ADULTOS E AS REGRAS
Por vezes posso parecer o Velho do Restelo, com os meus comentários desalentados. Mas vêm ter á minha mão, ou aos meus olhos, frases, pensamentos, alertas de gente mais sábia. que dão razão aos meus lamentos.
Na semana passada aconteceram-me duas coisas: estava a ler um livro sobre Homens célebres, quando deparei com este parágrafo:
As normas que governam a convivência social não foram impostas arbitrariamente. Nasceram da necessidade de harmonia, da moralidade e dos costumes, de perseverar uma maneira de estar na vida que faça da convivência um aspecto agradável da existência. A cortesia, as boas maneiras, a educação. serão sempre a essência do comportamento. As regras evoluem, adaptam-se, podem até variar segundo os povos, os lugares e as culturas, mas existem sempre.
Nos últimos tempos, pais, filhos e até avós, parecem julgar que as regras que impõem uma certa conduta social, foram feitas ao acaso, irracionalmente. Só para contrariar as crianças e maçar os adultos.
As mais elementares regras de civilidade, que nós aprendemos através de normas familiares que tinham passado de pais para filhos durante gerações, são coisas mais que ultrapassadas. Porque devemos obrigar uma criança a ceder num transporte público o lugar a uma pessoa mais velha, muitas vezes até muito mais velha? Porque devemos esperar que os adolescentes quando alguém da família ou um amigo entra na casa deles, venha cumprimentar quem chega? Porque nos escandalizamos se o palavrão, tantas vezes pesado, é normal na boca de jovens e adultos? Porque estranhamos se na hora da refeição, pelo menos a da noite, cada um chega quando quer, não cumprimenta ninguém, senta-se à mesa e só interrompe a mastigação para reclamar se algo lhe desagrada? Porquê o espanto se vemos adoráveis criancinhas a bater nos pais? Porque nos perturbamos quando toda a gente fala aos berros, pouco interessados em manter um diálogo, mas querendo apenas impor as suas opiniões?
A resposta a estas perguntas, estava na frase que eu acabara de ler. A cortesia, as boas maneiras, a educação. serão sempre a essência do comportamento. As regras evoluem, adaptam-se, podem até variar segundo os povos, os lugares e as culturas, mas existem sempre.
Ignora-las, despreza-las até, é um mau servido prestado às nossas crianças e à comunidade.
O segundo acontecimento da semana foi ter sido convidada para uma reunião em casa duma amiga. Nem sequer é amiga, será antes um conhecimento de ocasião à qual estou associada por interesses de música e teatro. Um dos seus netos, iria tocar para nós, algumas peças para piano. Estavam mais jovens presentes, não só outros netos, como netos de amigas, sobrinhos e primos. As idades iriam dos vinte e muitos, com grande predominância dos doze aos 17 e até bastantes crianças. Pois toda aquela mocidade era naturalmente educada, cortês, familiar e alegre.
Aplaudi o pianista, que era de facto muito bom, com as palmas convencionais. E em silêncio, aplaudi aquela família, que, sem transformarem os seus jovens nos “meninos exemplares” da Condessa de Ségur, os tinham transformado em jovens encantadores. E como estes, há muitos outros, que sem deixarem de ser jovens modernos e divertidos, nada têm a ver com a “juventude rasca”. Essa juventude que me choca quando viajam comigo no comboio, sentados no chão, cabelos, que no meu tempo (esta palavra meu tempo que eu emprego demasiadas vezes!) esguedelhados, precisando de agúe e sabão urgentemente, empregando não a gíria que até tem graça, mas o palavrão, num desafio, elas pior que eles.
Quais serão os objectivos desses jovens que serão os cidadãos do amanhã?
É por causa desses jovens esgadelhados e a precisar de água e sabão que por vezes fico muita angustiada a pensar nos meus netos, Durante anos angustiava-me pelos meus filhos até que um dia suspirei de alívio pois reparei que já eram jovens adultos e tudo tinha corrido bem. Mas agora estão cá os netos e apesar de saber que posso contar com o bom senso dos pais o meio exterior é preocupante... um beijinho
ResponderEliminar