Em Julho, a Maria fez dezoito anos atingindo assim a maioridade.

Houve o habitual Almoço de Família e aos brindes, além dos nossos desejos de Longa Vida, Saúde, Paz e muitos namorados, os primos alertaram-na para os DIREITOS que acabara de adquirir: votar, tirar a carta, etc etc. Ninguém, incluindo esta avó conceituosa, lhe lembrou os “DEVERES” que vêm sempre juntos com os Direitos.

O 1º DEVER do HOMEM (que aqui figura como representante da humanidade ) é tornar-se independente, material e mentalmente. E o Dever primordial para com os filhos é assegurar-lhes essa possibilidade, velando para que adquiram uma profissão, quer através do estudo, se tiverem vocação para isso, ou ocupação mais prática e mais a seu gosto. Se o TRABALHO dos Pais é conseguir os meios para proporcionar o bem-estar da família, o TRABALHO dos Filhos é estudar para adquirirem um modo de ganhar a vida que lhes garanta a tal independência que tanto anseiam.

Já tenho ouvido alguns jovens arrogantes, dizerem não sentir a obrigação de libertarem os pais da função de os manter, porque não pediram para nascer.É verdade que não pediram para nascer, mas gozam sem o menor escrúpulo as alegrias da vida, o conforto do lar, as consolas de playstation, os telemóveis top de gama e grande parte deles, o seu carrinho, com mesada reforçada para a gasolina.

Aliás, não consta nos anais da história da humanidade, que alguém o tivesse pedido para nascer. Aparecemos sem sabermos muito bem como. Os nossos primeiros meses são de desconforto e curiosidade; depois, aprendemos rapidamente como poderemos ser astutos e competidores. E num momento sem história, somos nós também progenitores com os filhos a acusarem-nos de fazer exactamente aquilo de que acusávamos os nossos pais.

De jovens contestatários, de calças à “boca-de-sino” e melenas compridas, estamos perante uma guerra surda dos nossos filhotes, fardados de ganga e “piercings” por tudo quanto é carne, aos nossos desejos.

Ninguém pede para nascer e, se escolhemos os companheiros (maior parte das vezes sem o menor bom senso) se desejamos os filhos com alegria e amor, os pais, teremos que adoptar os que nos calharem. Se forem bons, devemos estar gratos, se não o forem, quanto mais depressa alcançarmos a independência, melhor.

Atingir a Maioridade, envolve principalmente mais responsabilidade. Já não somos a criancinha amorosa a quem tudo se desculpa, nem o adolescente por vezes muito complicado que os pais vão aceitando com paciência. Embora sejamos a mesma pessoa do dia anterior, no dia seguinte já somos diferentes. Há, ou deveria haver ,menos tolerância e menos desculpas para as parvoíces e nenhuma para os erros graves. Espera-se que os estudos sejam o primeiro interesse e só depois os divertimentos. E até na escolha dos namorados, deseja-se que haja mais atenção ao carácter do escolhido e menos entusiasmo por uns belos músculos.

Alguns pais que, no desejo de compensarem os filhos da pouca atenção que lhes oferecem, vivem muito acima das suas posses habituando -os a terem tudo quanto pedem, não percebem que estão a cometer um enorme erro. Provavelmente, também eles não o sentem, usando o cartão de crédito como uma varinha mágica.


Mas é muito difícil ensinar a um jovem criado dessa maneira, que a fortuna dos pais muitas vezes é fictícia, que o seu “Abre-Te Sésamo” sempre que querem alguma coisa, não durará para sempre e que a realidade é trabalhar para o seu sustento


À Maria, desejo, acima de tudo, que aprecie este imenso bem que è a Vida; que tenha o bom senso de apreciar tudo o que tem e não desejar o que não pode ter; que goste do trabalho que tiver e que lute para o obter. Mas que compreenda que nem sempre fazemos aquilo que gostamos, e muitas vezes preciso fazer o que nos desagrada.

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