O PIQUENIQUE



Os Garraus, ilustres descendentes do meu avô paterno, vão ter o seu 1.º piquenique. Desta vez organizado por dois membros masculinos da família, o João, meu filho e o Pedro, filho da nossa actual decana, a Malena.

A Merenda (como eu gosto de chamar ao inglês picnic) era para ser na Barragem dos Patudos, mas dado o tempo muito quente, será em casa do Pedro, e a ementa além de cada clã e levar comida para si (o que evitará termos centenas de pasteis de bacalhau, quilos de carapauzinhos fritos, montanhas de rissóis) terá em comum sardinhas assadas e febras de porco, o que o transformará num churrasco.

Um churrasco, (hábito que os portugueses não cultivavam, a não se para assar sardinhas e bifanas num fogareiro de carvão) não tem nada a ver com um piquenique; como somos inovadores, talvez os Garraus vão criar o “churrasnique” e pode ser que tudo venha a correr da melhor maneira.

Mas tenho saudades das tais merendas da minha adolescência, tal como elas decorriam nos aprazíveis locais minhotos, onde as famílias se reuniam, bem instaladas em cadeiras de praia, com as mesinhas desmontáveis (grande novidade da época e inveja dos menos afortunados) cobertas pelas tradicionais “toalhas de merenda” para saborearam a broa, bem recheada de carnes, os bolinhos de bacalhau, e as costeletas de anho panadas.

A gente nova, que não tinha direito a tais requintes de comodidade instalava-se no chão, que no Minho é sempre um fofo tapete verde, ao redor dum toalha de quadrados vermelhos e brancos. Nesse tempo os rapazes não tocavam viola, mas alguns dos meus jovens amigos e amigas tocavam muito bem acordeão, que nós acompanhávamos com os ferrinhos e "tra-la-rás".

Entre os amigos dos meus pais, havia o Zé Ribeiro, que não sendo poeta, recitava lindamente. E tal como na merenda não faltava jamais a bola e a aletria, não levantávamos arraiais sem que ele recitasse o apropriado poema de César Verde



Naquele pique-nique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,

E que, sem ter história nem grandezas,

Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,

Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.


Mas, todo púrpuro a sair da renda

Dos teus dois seios como duas rolas,

Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!



E, imagine-se! as raparigas ainda coravam quando o olhar indiscreto dos rapazes, poisava nos decotes dos vestidos, certamente procurando as ditas rolas. Tenho realmente muitos anos!!


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