A VERDADEIRA TRISTEZA

A verdadeira tristeza do envelhecer, não está nos anos que nos vão aproximando do fim, não está na distância que vamos sentindo entre nós, os filhos, e os netos, apesar da amizade que sintamos uns pelos outros; na amargura de partirmos sem ver crescer os bisnetos. Não está sequer nos achaques próprios da velhice, que por vezes nos incomodam.

A verdadeira tristeza está nos amigos que vamos perdendo. E quando falo em amigos, falo em pessoas que foram nossos companheiros de uma vida, amigos de infância, amigos que o casamento nos trouxe, amigos que fizemos em circunstancias felizes e mantivemos.

Vem isto a propósito da minha ocupação actual: passar de velhas cassetes de filmes que fiz há muitos anos, (viagens, férias, natais, aniversários de filhos e netos, casamentos de familiares e amigos) para DVD, onde esses momentos felizes (porque ninguém pensa em filmar ocasiões menos afortunadas) ficarão melhor preservados.

E nesses filmes, além de me divertir com os netos, quando eram muito pequenos, já mais crescidos e malandretes, mas sempre encantadores, com os alegres preparativos do Natal em Oleiros, recordei maravilhosas férias que passei com amigos.

Em Sines, com a Lita e o Francisco, ele colega do meu marido na Escola Industrial, na Escola Náutica, no Mar, depois em Terra. Com a Lurdes e o Alberto, igualmente colega e padrinhos do meu filho. nas grandes temporadas de Inverno que passámos no Algarve, quando terminados os anos de trabalho podíamos dispor do tempo conforme nos apetecia. Antes disso, no Parque de Campismo de Monsanto onde “arejávamos” as crianças durante os meses de verão. Dessa altura não tenho filmes, fmas graças às técnicas modernas, as fotografias podem ser transformadas em pequenos documentários, para serem vistos confortavelmente na TV.

Mas os filmes, sim, esses revelam-tudo E à distância, as conversas, os almoços que partilhámos, os comentários a factos agora tão distantes, mas que na altura nos pareciam importantes. Mostram os nossos cabelos ainda escuros, a pele sem rugas, as costas direitas, o vestuário que agora nos faz sorrir.

Grande parte deles foram filmados no Algarve. em Monte Gordo e Olhão,Mas também na Dinamarca com os Madsen, no local muito belo onde viviam, nas margens do Lim Fiord, na Jutlândia. Igualmente há momentos felizes em Vigo, quando aí permaneciamos em casa do Francisco e da Lita .

Amigos, que são pessoas da nossa idade, com filhos e netos da idade dos nossos, que tiveram as mesmas dificuldades que nós, enquanto jovens casais, que conquistaram o estatuto de “Bem instalados na Vida“ como conquistamos, que gozam calmamente a aposentaria merecida. Com a mesma “nostalgia" do nosso tempo” que não conseguimos deixar de sentir e que os filhos não podem compreender.

E, repente, vê-los partir, um a um, deixando um doloroso vazio à nossa volta, estreitando cada vez mais o círculo onde nos movemos. Isso sim é a verdadeira e única tristeza da velhice.