TU ! TU ! TU !
Tenho prestado especial atenção a uma palavra que sobressai nas conversas entre casais, geralmente de meia idade e na terceira fase do casamento. Essas “escutas” da minha parte, decorrem no comboio, quando regresso de Lisboa, ao fim da tarde, que é uma excelente altura para ouvir os companheiros de viagem. As pessoas já viveram o seu dia, estão mais ao menos felizes por regressarem aos penates, mas cansadas ou aborrecidas É então que a palavra TU, acusatória, agressiva, entra nas conversas dos casais, dos namorados e até de amigas.
Algumas pessoas casadas há muitos anos, já viveram todos os sonhos, desilusões, alegrias, inquirições, desesperos que tinham que viver.E têm muito cuidado na maneira com usam o TU, essa forma de depreciação, que é o primeiro sinal de falta de respeito entre duas pessoas.
Sobreviventes dessa longa permanência a que chamamos Bodas de Ouro, têm o bom senso de arrumarem agravos e desilusões em gavetas sem chave e relembrarem tudo quanto tiveram de bom, gozarem o prazer que lhes dão filhos e netos e viverem em paz diária, por vezes ligeiramente perturbada por caturrices de velhos.
Mas os casais que ainda não atingiram esse estágio, mantêm diálogos onde o Tu é de tal modo amargo ou exasperado, que os faz esquecer que estão rodeados de pessoas que os ouvem, indiferentes, interessadas, ou no pior dos casos, divertidas.
O Tu, que me leva a escrever sobre ele, impressionou-me porque era proferido por um casal cuja idade já nem lhes permitia incitarem uma nova vida, nem sequer deviam pensar nisso. Queriam apenas ferir, acusar, transferirem para o outro os próprios erros.
O motivo da discussão que se azedava de momento a momento, era a filha. O marido, aparentemente em defesa da cara-metade, acusava-a de ser uma mãe galinha, escrava dos filhos e ama a tempo inteiro dos netos. Ela respondia com esse TU fatal .
— E TU? Com esse maldito feitio, quase os enxotas de casa! Uma gargalhadinha sarcástica antecipou a resposta:
- ENXOTÁ-LOS! Como se eles fossem matar a galinha dos ovos de ouro! TU é que és uma parva, até a roupa a ferro passas à menina!
- Ela está a trabalhar! O pai da Menina exclamava
-Em vez de irem passar férias a Cacun, arranjava uma mulher a dias para a ajudar. Mas para quê? A mulher-a-dias és TU! Resposta da voz feminina: -Ao menos EU ajudo-os no que posso Agora TU! Bem podias ir buscar as crianças à escola; assim não precisavam de ir para ama. Mas TU!
A esta altura, já não era apenas o TU que me afligia. Era ver como aquelas duas pessoas expunham os seus atritos particulares, para quem os quisesse ouvir, ou seja quase a carruagem inteira. E pensava na filha, que talvez nem se apercebesse com interferia na vida dos pais.
Sobreviventes dessa longa permanência a que chamamos Bodas de Ouro, têm o bom senso de arrumarem agravos e desilusões em gavetas sem chave e relembrarem tudo quanto tiveram de bom, gozarem o prazer que lhes dão filhos e netos e viverem em paz diária, por vezes ligeiramente perturbada por caturrices de velhos.
Mas os casais que ainda não atingiram esse estágio, mantêm diálogos onde o Tu é de tal modo amargo ou exasperado, que os faz esquecer que estão rodeados de pessoas que os ouvem, indiferentes, interessadas, ou no pior dos casos, divertidas.
O Tu, que me leva a escrever sobre ele, impressionou-me porque era proferido por um casal cuja idade já nem lhes permitia incitarem uma nova vida, nem sequer deviam pensar nisso. Queriam apenas ferir, acusar, transferirem para o outro os próprios erros.
O motivo da discussão que se azedava de momento a momento, era a filha. O marido, aparentemente em defesa da cara-metade, acusava-a de ser uma mãe galinha, escrava dos filhos e ama a tempo inteiro dos netos. Ela respondia com esse TU fatal .
— E TU? Com esse maldito feitio, quase os enxotas de casa! Uma gargalhadinha sarcástica antecipou a resposta:
- ENXOTÁ-LOS! Como se eles fossem matar a galinha dos ovos de ouro! TU é que és uma parva, até a roupa a ferro passas à menina!
- Ela está a trabalhar! O pai da Menina exclamava
-Em vez de irem passar férias a Cacun, arranjava uma mulher a dias para a ajudar. Mas para quê? A mulher-a-dias és TU! Resposta da voz feminina: -Ao menos EU ajudo-os no que posso Agora TU! Bem podias ir buscar as crianças à escola; assim não precisavam de ir para ama. Mas TU!
A esta altura, já não era apenas o TU que me afligia. Era ver como aquelas duas pessoas expunham os seus atritos particulares, para quem os quisesse ouvir, ou seja quase a carruagem inteira. E pensava na filha, que talvez nem se apercebesse com interferia na vida dos pais.
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