DIA DE ANIVERSÁRIO
Tenho 75 anos e cinco dias. E nestes cinco dias, tenho reflectido no significado desses anos, como os usei,se aumentei ou não o capital que me legaram.
Porque somos nós, auxiliados pelos genes que herdamos, pela educação que nos deram, pelos exemplos aprendidos, pela instrução que adquirimos, que construímos a nossa vida. Não somos dependentes dum temperamento originado na infância e na adolescência.
Com sorte, bom senso e humildade, conseguiremos gerir essa criatura estranha que há em nós, e determinar a direcção e qualidade da nossa existência.
Por vezes isso acontece naturalmente, devido às qualidades natas da pessoa. Com menos sorte, essa transformação é ocasionada por um acontecimento, quase sempre penoso, ou nunca acontece.
De que modo partilhei a minha vida com as outras pessoas? O que fui eu, para os meus pais, para o meu marido, para os meus filhos, para os meus amigos?
Para os meus pais, fui a rotina: quem casa, tem filhos. Filha única teria sido uma criança solitária e egoísta se não tivesse uma grande família a rodear-me. Mas isso não foi totalmente mau. Aprendi a apreciar o silêncio, a exercitar a imaginação e a fazer dos livros bons amigos.
Para o meu marido, fui uma jovem criada nos princípios burgueses dos bons costumes. Suficientemente jovem para ele ser um Pigmaleão e eu a sua Elisa. Nunca me considerou muito inteligente, mas bastava-lhe eu ser como o gato maltês, que tocava piano e falava francês. Fui esposa como tinha sido filha: cordata, acomodada, contente com a minha vidinha fácil. Mas fui uma boa esposa? Amámo-nos, Respeitámo-nos, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, nas ocasiões boas e nas difíceis? Talvez nem sempre, mas tivemos momentos de verdadeira felicidade Estamos casados há 56 anos e permanecemos juntos.
Para os meus filhos, fui uma mãe a tempo muito parcial, uma mulher sem vontade própria incapaz de expor uma opinião e defende-la. Não fui decerto a maravilhosa mãe que eles gostariam de ter. Foram eles, os filhos que eu desejava? Pudemos contar uns com os outros em ocasiões difíceis das nossas vidas? Mas quem é perfeito? Deram-me imensas alegrias e poucas ou nenhumas preocupações a não ser aquelas provocadas pelas doenças, De facto, deram-me muito mais do que eu lhes dei e nesta reflexão sobre a minha vida, essa é a grande mágoa que eu tenho.
Para os meus amigos, sou uma pessoa capaz de ser amiga, que sabe ouvir, que partilha sinceramente as suas alegrias e tristezas. Creio que é como amiga, que eu nunca falhei.
A que conclusão cheguei? Embora lamente não ter “acordado”, mais cedo porque mais cedo teria compreendido onde errei e tentado não cometer os mesmos erros, neste momento sinto-me em paz e os últimos vinte anos da minha vida, principalmente os últimos dez, valem e compensam os outros 50.
Com sorte, bom senso e humildade, conseguiremos gerir essa criatura estranha que há em nós, e determinar a direcção e qualidade da nossa existência.
Por vezes isso acontece naturalmente, devido às qualidades natas da pessoa. Com menos sorte, essa transformação é ocasionada por um acontecimento, quase sempre penoso, ou nunca acontece.
De que modo partilhei a minha vida com as outras pessoas? O que fui eu, para os meus pais, para o meu marido, para os meus filhos, para os meus amigos?
Para os meus pais, fui a rotina: quem casa, tem filhos. Filha única teria sido uma criança solitária e egoísta se não tivesse uma grande família a rodear-me. Mas isso não foi totalmente mau. Aprendi a apreciar o silêncio, a exercitar a imaginação e a fazer dos livros bons amigos.
Para o meu marido, fui uma jovem criada nos princípios burgueses dos bons costumes. Suficientemente jovem para ele ser um Pigmaleão e eu a sua Elisa. Nunca me considerou muito inteligente, mas bastava-lhe eu ser como o gato maltês, que tocava piano e falava francês. Fui esposa como tinha sido filha: cordata, acomodada, contente com a minha vidinha fácil. Mas fui uma boa esposa? Amámo-nos, Respeitámo-nos, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, nas ocasiões boas e nas difíceis? Talvez nem sempre, mas tivemos momentos de verdadeira felicidade Estamos casados há 56 anos e permanecemos juntos.
Para os meus filhos, fui uma mãe a tempo muito parcial, uma mulher sem vontade própria incapaz de expor uma opinião e defende-la. Não fui decerto a maravilhosa mãe que eles gostariam de ter. Foram eles, os filhos que eu desejava? Pudemos contar uns com os outros em ocasiões difíceis das nossas vidas? Mas quem é perfeito? Deram-me imensas alegrias e poucas ou nenhumas preocupações a não ser aquelas provocadas pelas doenças, De facto, deram-me muito mais do que eu lhes dei e nesta reflexão sobre a minha vida, essa é a grande mágoa que eu tenho.
Para os meus amigos, sou uma pessoa capaz de ser amiga, que sabe ouvir, que partilha sinceramente as suas alegrias e tristezas. Creio que é como amiga, que eu nunca falhei.
A que conclusão cheguei? Embora lamente não ter “acordado”, mais cedo porque mais cedo teria compreendido onde errei e tentado não cometer os mesmos erros, neste momento sinto-me em paz e os últimos vinte anos da minha vida, principalmente os últimos dez, valem e compensam os outros 50.
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