COISAS PEQUENAS SEM IMPORTÂNCIA


"UMA CRIANÇA É SEMPRE O PRODUTO DO MEIO EM QUE VIVE,DO AMOR OU INDIFERENÇA
COM QUE É TRATADO"


O Afonso tem cinco anos, e está vestido muito “in”: calções que parecem do irmão mais velho, camisola BENETON, sapatos de ténis ADIDAS, tipo tanque de guerra.Com esse belo e caro equipamento, limpa alegremente o chão do Centro Médico, indiferente às reprimendas da mãe, que pela centésima vez, grita (é mesmo gritar) :– Afonso levante-se do chão.
É um miúdo giro que, com uma inocência feroz, jura matar os inimigos imaginários que o cercam e nos classifica rapidamente: vocês são os maus, vocês são os bons.
Em nome dos meus companheiros classificados de maus, pergunto-lhe porque é que nós somos os maus. A resposta é curta: porque eu quero, eu sou o chefe!
Para uma criança de cinco anos, esta resposta é um tanto perturbadora. Em que parte os brutais desenhos animados da nossa televisão, contribuirão para ela?
Entretanto, porque o Afonso, enquanto brandia uma espada feita duma revista enrolada. desequilibrou-se, caiu e com os ténis deu uma valente pancada numa utente, que aguardavam consulta. A senhora olhou o Afonso e sobretudo a mãe, reprovadoramente, Então, a progenitora tentou manter o infante sentado junto dela, o que provocou no dito uma fúria, manifestada em pontapés enérgicos. nas cadeiras e nas pernas da mãe A isto, retorquiu ela com uma palmada por cima das calças, do que resultou o Afonso começar a chorar num crescendo tipo sirene dos bombeiros. Uma senhora que a acompanhava, censurou: não era preciso bateres por UMA COISA TÃO PEQUENA!


O adolescente apareceu na festa de família, de “trombas, cabelo crescido e mal lavado, olhando os presentes como se os considerasse culpados por estar levantado às seis da tarde. A mãe, vendo todos os olhares fixos naquela aparição, explicou:- Deitou-se às seis da manhã ! como se o pobre tivesse passado a noite transportando sacos de batatas.
O jovem não cumprimentou ninguém , dirigiu-se à mesa onde começou a devorar o que lhe aparecia pela frente. Estômago cheio, olhou em roda e comentou: -mas nesta casa, não há nada que se beba? O pai não aguentou mais. Pegou num jarro com água e virou-lhe pela cabeça Meio espantado mas muito ofendido pela reacção paterna, abalou pelo mesmo caminho que chegara A mãe, com um ar doloroso, comentou: Por UMA COISA TÃO PEQUENA! só por ele perguntar se não havia que beber!

Os “Lelos” que acampam no passeio junto do supermercado, fazem ali as suas vendas ilegais e aparentemente, pouco frutuosas. E digo “acampam” porque é isso mesmo que fazem. Chegam de manhã, com os seus carros montras, cadeiras, carrinhos de bebés, putos mais crescidos que limpam as mãos aos vidros da porta, depois de terem saboreado o iogurte matinal.
Abrem grandes panos no chão, dos dois lados do passeio, deixando um estreito carreiro,maior parte das vezes ocupado pelas clientes,obrigando as pessoas a transitarem pela rua. Nesses panos expõem os seus artigos. : - compre ó freguesa! É lacosta, a cinco euros. Ou então: - olha a bela mala guchi.
Aberta a loja, elas ficam tagarelando, enquanto cinco ou seis homens possantes, bem vestidos, descansam da condução do carro. Tem a sua hora de almoço, como todo o cidadão e no remanso da tarde continua a faina.
Mas de vez em quando, esta paz idílica é perturbada pela chegada da PSP, que injustamente lhes lembra que estão a proceder ilegalmente ocupando a via publica etc, etc, etc .Na agitação total que é a recolha apressada dos trapos com as roupas, para dentro das viaturas, há sempre uma alma caridosa (que não vive ali) que diz:
- coitados por UMA COISA TÃO PEQUENA


Mas de quantas destas coisas pequenas sem importância, surgem crianças que se tornam adultos insuportáveis; jovens sem rumo, que estacionam nos anos de escola, sempre com uma desculpa; homens e mulheres pensando que apenas têm direitos e nunca deveres: gente que acha que é muito melhor apossar-se das coisas em vez de consegui-las pelo seu esforço pessoal; rapazes e raparigas que por demasiada condescendência são maus filhos e serão maus pais,para quem as regras são para transgredir e nunca para acatar?

Comentários

Mensagens populares deste blogue

meu pobre Computador

OS INCRÍVEIS LUSITANOS