A VELHA AMIGA



BRAGA
Os “Duchesse”da pastelaria Suíça, continuam a ser excepcionais. Sentei-me a apreciar esse meu fornecedor de calorias extras ,quando uma voz com um acentuado sotaque nortenho exclamou :A minha alma está varada! És tu!
Não tive dúvidas sobre quem era a minha interlocutora. O mesmo rosto pequeno e doce, naturalmente rosado, o mesmo sorriso; a única diferença é que vinte atrás, esse rosto estava emoldurados por caracóis castanhos e agora os mesmos caracóis tinham um belo tom de prata. Era a minha amiga Sãozinha, minha companheira de carteira no velho colégio Dublin, minha amiga do peito, minha confidente, companheira de alegrias e tristezas de adolescentes sentimentais. Há mais de 20 anos que não nos víamos, embora pelo Natal, pelos aniversários, pelos óbitos, trocássemos as habituais mensagens sociais. De facto, embora não convivêssemos, estávamos a par dos acontecimentos principais da vida de cada uma. A distância, (ela continuava a viver em Braga e eu em Lisboa) rumos diferentes das nossas vidas e não a perda da amizade, tinham fragilizado mas não suprimido o nosso cordão de prata da amizade. Mas era muito bom voltar a vê-la, pouco diferente do que a recordava e conversar outra vez.

Em primeiro lugar, pôr a vida em dia: a irmã estava viúva e repartia os seus dias entre velha casa de Braga e a casa do filho, que se fixara no Canadá. O irmão tomara conta dos negócios do pai e seguíra fielmente as suas pegadas: comerciante respeitado e próspero, membro influente no Rotary Clube. Ela, continuava “ bem casada” os filhos tão bem casados como ela, com 3 netos e dois bisnetos.

O único senão a pôr tons de cinza no rosado da sua tranquila vida, era uma das netas. Casada e divorciada duas vezes, independente, muito moderna, muito tola, classificava-a a avó. Felizmente, confessava com realismo a minha amiga, tinha o seu emprego na Onu e vivia entre nova York e Bruxelas. O que evitava aos pais, situações muito confrangedoras.

O primeiro casamento da neta, fora quase um choque para a família. Em meio ano, namorara, noivara e casara com um colega da faculdade, de quem pouco sabia a não ser que era culto, giro, simpático, muito moderno, que fisicamente lhe agradava, comungavam das mesmas ideias políticas, eram intelectualmente muito semelhantes e tinham a mesma profissão.

Observei parecer-me um cocktail muito interessante .Mas na opinião da minha amiga, poderia ser muito interessante, mas não o suficiente para transformar-se num casamento sólido. O casamento deveria ser principalmente a constituição duma nova família e ser feito com os melhores componentes. E, acrescentava na sua eterna maneira prática de ver as coisas:- se quando construímos uma casa escolhemos os alicerces, os materiais, as tintas, as divisões com o maior cuidado, porque deixar ao acaso e a sentimentos efémeros , a qualidade dos componentes duma família? .

Mas não estamos em Braga, em 1950, afirmei.Em Braga, em 1950 0u 2000, as regras são sempre as mesmas. Quantas das nossas amigas se divorciaram? E certamente não viveram nestes 50 anos, eternos romances "cor de rosa", não gozaram de uma felicidade perpétua. A neta, em 3 anos, casara e descasara duas vezes e agora tinha um”companheiro” Seria a sua vida cor de rosa? Seria feliz? Se era, porque se divorciaria?
E como ela, todas as raparigas deste tempo, que se dizem emancipadas, libertas dos preconceitos do antigamente. Felizmente, a Mónica não tivera filhos, não causara vitimas ,além dela e dos maridos. Terminou o assunto, dizendo: e agora lá vou eu para Bruxelas,a fim de conhecer o “sujeito”.Ela quer vir passar o Natal connosco, trazendo-o, e antes que os pais tivessem um ataque cardíaco, ia avaliar a situação. Não é que se importasse muito, desde que a neta não pretendesse envolver a família nos seus passatempos.:três homens em três anos, era realmente demais para a família da minha amiga.
Ou de qualquer família. Principalmente para as crianças que sobram dessas uniões caprichosas e egoístas.





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