O BLOGUE



Por vezes, penso comigo, “Porque tenho um blog”? Ao princípio foi curiosidade e um desafio. A minha nora insistia que eu seria capaz, eu afirmava não saber o que escrever, mas avancei.
A partir do momento em que as minhas relações com o Azimov (o meu P.C) se estreitavam, que me sentia mais à-vontade com o teclado e com os programas, que passava de uns para os outros com imensa satisfação e alguma facilidade, comecei também, a acreditar mais em mim.

Até aos 18 anos, vivi sob a tutela duma mãe autoritária que decidia toda a minha vida, desde o que vestiria; o que iria fazer dessa vida; o que estudaria e o que não mereceria a pena saber. Era uma mulher muito enérgica, parecia saber fazer tudo, e eu, era exactamente o oposto: sossegada diriam uns, indolente e apática chamariam outros, Eu fico-me pelo acomodada Preferia obedecer a enfrentar lutas das quais sairia sempre a perder.

A partir dos dezoito anos, passei a viver com um marido tão enérgico e dominador como a minha mãe, duma eficiência tal, que eu jamais poderia igualar. A grande diferença entre ambos é que a minha mãe era uma mulher dura, que sempre encarou a maternidade como uma obrigação, enquanto o meu novo mentor era um homem amável, que me proporcionava uma vida gostosa e diferente da calma vida de solteira… desde que eu gostasse do que ele gostava e fizesse o que ele achava que eu devia fazer.

Durante muitos anos encarei esses factos natural e gostosamente, pensando que de facto era uma pessoa sem grande personalidade e, incapaz de voos muito altos. E com isto, não estou a desculpar o meu “deixa andar”Cada um de nós, nasce com uma personalidade própria, condicionada é certo, pelos genes, pela educação que recebemos, pelos exemplos que nos dão, pela maneira como fazem de nós seres bem preparados para a vida, ou pretendem que sejamos o que queriam ser e nunca foram. Mas apesar de tudo, existe em cada ser algo de muito especial e único. Apenas é preciso compreender isso e passar a orientar a nova pessoa que descobrimos em nós.

O “Azimov” foi uma revelação. Descobri em mim talentos que jamais acreditaria possuir. Dediquei-me ao meu novo amigo com o entusiasmo duma adolescente apaixonada. Viajei de surpresa em surpresa, absolutamente fascinada, cada nova aprendizagem era um marco na minha nova vida. E o melhor, o mais malvado e mais doce de tudo: eu fazia, o que meu eficiente marido era incapaz de fazer!

Se o P.C foi uma agradável surpresa, o Blogue, foi um deslumbramento. E mais uma vez. estou muito, muito grata, à Marjan. Não só me encorajou a escrever, como organizou com um grupo de amigos bloguistas, um coro de incitamentos e de apreciações favoráveis.

Hoje, eu própria evito os “comentários”. Eles surgem, alguns sem nexo, sem nada dizerem. Tenho cinco antigos “comentadores”, com quem troco e-mails, "comentando" o que lemos nos respectivos blogues. Esta pode ser uma das razões porque mantenho o meu. Três dos meus correspondentes são sul-americanos, um é espanhol e outro de Singapura. Deles, sei que: três são homens e duas são mulheres. Dois devem ser da minha idade porque falam de netos e bisnetos. Uma talvez seja mais nova porque fala dos pais e das irmãs. Não nos com conhecemos porque nenhum de nós tem Perfil. Mas é este amigável anonimato que me dá satisfação.

Se hoje não careço de comentários, naquele tempo todos foram preciosos, principalmente os das minhas netas, que respondiam com pequenos e gentis comentários ao que eu escrevia.

Descobri uma outra possível razão. Sou fanática pelo tema Família. Não pela família em si, porque não tenho qualquer tendência matriarca, mas pelo que ela representa, pelo modo como une as pessoas, mesmo que eles não o desejam muito, pelos valores que ainda consegue manter, num tempo em que maior parte dos deles são postos de lado, como jornais velhos

Durante a minha juventude, escrevi imensos diários: todos patetas , lamechas, todos de curta duração. E continuo a considera-los quase ridículos. Num diário, há muito de narcisismo, mesmo inconsciente. O escritor tende a engrandecer o seu EU, as suas queixas, acha sempre os outros culpados pelas suas desilusões.

Mas escrever sobre a maneira como viajamos pela vida, sobre os pequenos e grandes acontecimentos que a preenchem, é bom. Escrever num blogue, obriga-nos a escrever com cuidado (às vezes)porque sabemos que estamos a escrever para quem nos quiser ler.

A minha avó Maria foi uma narradora muito especial dos episódios da vida, das personagens com quem viveu, das festas da sua aldeia, da sua fabulosa experiência quando, rapariga recém casada, deixou a aldeia, onde a luz conhecida era a do candeeiro de petróleo e das velas, onde a água era recolhida na fonte (ela nasceu em 1887) veio morar para Lisboa, para uma casa que tinha Luz (de gaz) para um 2ª andar (tão alto como a torre da igreja) e a cuja varanda durante muito tempo não ousava ir.
Se a minha avó, tivesse narrado, esses acontecimentos, tão pitorescos, tão cheios de graça, que enorme riqueza eles seriam hoje para nós, suas netas, para os nossos filhos! Porque é falso que a juventude, não se interesse pelo Passado.
Quando escrevo, não diariamente, mas quando um tema me interessa, quando sinto necessidade de escrever, gravo o blogue num CD.Talvez daqui a muitos anos, o meu Raio de Sol e outros Raios de Sol que chegarão, o leiam e pensem: que coisas estranhas as pessoas do tempo da minha bisavó tinham :Um Blogue!

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