O ALBUM / 2 COMO SERIA SE...
Há grande movimento na minha casa.Painéis de cartolina espalham-se pelo sofá, pelas mesas, até em cima da cama, à espera de serem penduradas, o meu secador de cabelo funciona, tentando descolar a fita-cola que o meu sócio se lembrou de usar na colagem das fotografias. São montes delas, agrupadas por épocas, que descansam no chão, esperando a sua vez de serem colocadas definitivamente (espero eu) na sua morada derradeira.
Passo por elas a todo o momento e recordo que representam: momentos da nossa vida de solteiros, de jovem casal, dos filhos, dos netos, dos amigos, dos muitos lugares que visitámos, de momentos da nossa vida, muito felizes e muito maus. Recordam-me os nossos mortos, pessoas que amamos ou de quem mal guardamos recordações ,mas que fizeram parte das famílias a que pertencemos.
Nas minhas reflexões, questiono-me: e, se naquele longínquo Domingo Gordo de 1950 eu não tivesse ido com os meus tios e primas ao Carnaval de Torres Vedras, não ao Carnaval de hoje, mas a um baile na Tuna, da qual o meu tio era sócio? Teria continuado a viver em Braga, a mais conservadora, opulenta e a mais burguesa cidade do Minho.
Hoje, Braga deve ter ficado tão desregrada como as outras cidades. As raparigas, como todas as raparigas do país, saem à noite para as discotecas, viajam de InterRail, têm carro próprio e mudam de par como se muda de camisa. E falo nas raparigas, porque aos rapazes,mesmo naquele tempo,era permitido um comportamento bem diferente. Mas em 1940, quando os meus pais lá fixaram residência, tinha eu 7 anos, tais coisas eram impensáveis. Mesmo as galdérias eram comedidas,os “casos” discretos.
O convívio social era feito entre pessoas ligadas pelos mesmos interesses, as mesmas convicções, os mesmos gostos, velando ferozmente para que não fossem postos em causa.
Como todas as raparigas daquele meio, onde a Família tinha um lugar privilegiado, com regras de conduta muito restritas, eu teria continuado a viver a minha plácida vida, destinada a tornar-me uma esposa diplomada nas artes de tornar feliz marido, filhos, sogros e pais. Viria a ser uma anfitriã perfeita, uma esposa compreensiva e indulgente, na qual por sua vez o marido se apoiaria.
Conviveria com os filhos dos amigos dos meus pais, todos eles muito “certinhos” que tratavam as raparigas com quem tencionavam casar como gostariam que tratassem as irmãs. Acabaria por casar com um deles, teríamos 2 a 4 meninos, que educaríamos como nos tinham educado , envelheceríamos na paz do Senhor.Seria com certeza uma vida muito diferente da que tenho.
E uma coisa muito mais interessante teria acontecido. Se eu não tivesse ido a um baile de Carnaval, conhecido o meu marido, um conhecimento transformado em namoro e terminado em casamento, os meus filhos não teriam existido; e como eles não existiriam, não teria netos nem o meu Raio de Sol viria a nascer. Mas mais do que isso: a vida do meu genro e da minha nora teria sido completamente diferente ,assim como a dos meus netos de coração, o Reuben e o Michael.
Moral da história: se eu não tivesse ido a Torres, num Domingo Gordo em 1950,a minha filha, o meu filho, os meus cinco netos, o meu próximo bisneto, não teriam vindo a este "mundo-cão" mas muito gostoso.
Se fosse necessário usar balança que existe na minha consciência, onde peso o que tenho de bom e de mau, eu diria que só por eles existirem, o prato se inclina para os 56 anos de vida em comum que todas estas fotografias trouxeram à minha memória.
Passo por elas a todo o momento e recordo que representam: momentos da nossa vida de solteiros, de jovem casal, dos filhos, dos netos, dos amigos, dos muitos lugares que visitámos, de momentos da nossa vida, muito felizes e muito maus. Recordam-me os nossos mortos, pessoas que amamos ou de quem mal guardamos recordações ,mas que fizeram parte das famílias a que pertencemos.
Nas minhas reflexões, questiono-me: e, se naquele longínquo Domingo Gordo de 1950 eu não tivesse ido com os meus tios e primas ao Carnaval de Torres Vedras, não ao Carnaval de hoje, mas a um baile na Tuna, da qual o meu tio era sócio? Teria continuado a viver em Braga, a mais conservadora, opulenta e a mais burguesa cidade do Minho.
Hoje, Braga deve ter ficado tão desregrada como as outras cidades. As raparigas, como todas as raparigas do país, saem à noite para as discotecas, viajam de InterRail, têm carro próprio e mudam de par como se muda de camisa. E falo nas raparigas, porque aos rapazes,mesmo naquele tempo,era permitido um comportamento bem diferente. Mas em 1940, quando os meus pais lá fixaram residência, tinha eu 7 anos, tais coisas eram impensáveis. Mesmo as galdérias eram comedidas,os “casos” discretos.
O convívio social era feito entre pessoas ligadas pelos mesmos interesses, as mesmas convicções, os mesmos gostos, velando ferozmente para que não fossem postos em causa.
Como todas as raparigas daquele meio, onde a Família tinha um lugar privilegiado, com regras de conduta muito restritas, eu teria continuado a viver a minha plácida vida, destinada a tornar-me uma esposa diplomada nas artes de tornar feliz marido, filhos, sogros e pais. Viria a ser uma anfitriã perfeita, uma esposa compreensiva e indulgente, na qual por sua vez o marido se apoiaria.
Conviveria com os filhos dos amigos dos meus pais, todos eles muito “certinhos” que tratavam as raparigas com quem tencionavam casar como gostariam que tratassem as irmãs. Acabaria por casar com um deles, teríamos 2 a 4 meninos, que educaríamos como nos tinham educado , envelheceríamos na paz do Senhor.Seria com certeza uma vida muito diferente da que tenho.
E uma coisa muito mais interessante teria acontecido. Se eu não tivesse ido a um baile de Carnaval, conhecido o meu marido, um conhecimento transformado em namoro e terminado em casamento, os meus filhos não teriam existido; e como eles não existiriam, não teria netos nem o meu Raio de Sol viria a nascer. Mas mais do que isso: a vida do meu genro e da minha nora teria sido completamente diferente ,assim como a dos meus netos de coração, o Reuben e o Michael.
Moral da história: se eu não tivesse ido a Torres, num Domingo Gordo em 1950,a minha filha, o meu filho, os meus cinco netos, o meu próximo bisneto, não teriam vindo a este "mundo-cão" mas muito gostoso.
Se fosse necessário usar balança que existe na minha consciência, onde peso o que tenho de bom e de mau, eu diria que só por eles existirem, o prato se inclina para os 56 anos de vida em comum que todas estas fotografias trouxeram à minha memória.
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