OS MEU S FIÉIS DEFUNTOS II


Tenho defuntos dos quais nem me lembro;tenho defuntos a quem recordo quase todos os dias.Mas neste dia que lhes é especialmente dedicado,recordo com um pensamento muito especial,alguns deles.
Este ano,vieram-me à memória quatro mulheres que tiveram um lugar muito especial na minha vida.

A primeira,porque me deu a vida,embora a minha vinda ao mundo ocorresse numa tentativa de melhorar os seus padecimentos e não por qualquer desejo intenso e amoroso de gerar um filho,é a minha mãe.
Nunca tivemos qualquer relação de camaradagem, confiança, ou ternura.Não me lembro de ter corrido para o colo dela,ou de me aconchegar na sua cama numa manhã de domingo.A nossa estima mutua era a convencional estima que uma mãe deve ter pela filha e uma filha deve ter pela mãe.
Mas reconheço que conseguiu transmitir-me valores morais e regras de conduta, que ainda hoje comandam muitos dos meus actos.Estou convencida que sempre quis o melhor para mim.Mas era o” melhor”, do seu ponto de vista.Muitas vezes quando contrariou os meus desejos,estava cheia de razão.E na única vez que não acatei as suas ordens,vim a compreender,muitos anos mais tarde, que teria sido bem melhoro que o tivesse feito

A segunda mulher que tem um lugar permanente no meu coração e na minha memória,é a Xixa,como eu e as minhas primas lhe chamávamos.Era para a cama dela que eu corria nas manhãs de domingo, quando toda a casa dormia ainda; era ela que vinha silenciosamente , para minha mãe não ouvir,até ao meu quarto, quando havia trovoada que me apavorava.Era ela que com infinita paciência brincava comigo aos jantarinhos, fazia enxovais completos para as minhas bonecas.

A terceira, a quem recordo quase todos os dias, de quem tenho uma saudade profunda,que me fez uma imensa falta, foi a minha tia Palmira, que soube ser Mãe, Amiga, Conselheira, que me abriu os lhos para a vida, que eu vivia irrealmente, que me auxiliou sempre,com conselhos, com ternura,com delicado apoio material, naquela altura difícil que todos os casais jovens têm, no principio da vida,É talvez o único dos meus mortos por quem não consigo deixar de chorar quando penso na sua partida demasiado cedo.

A ultima,è minha avó Maria do Rosário. Não era uma mulher intelectual ou verdadeiramente culta, mas era uma mulher Sábia.Era uma mulher de parábolas e quando nos repreendia sentíamos sempre que era com inteira justiça.Não era também de caricias fáceis ou de risos leves.Mas nunca tive medo de falar com ela, jamais se mostrou importunada com as perguntas que lhe fazíamos. Quando passávamos férias com ela,rodeava-nos dos pequenos mimos que todas as crianças apreciam.Mas, mais do que tudo,incutiu em nós um intenso Sentido de Família. não de regras banais e de parantescos sem significado, mas do Conjunto que uma familia nunca deve esquecer que é. Falava-nos constantemente dos nossos avós, dos costumes da aldeia onde nascera, era um manancial de histórias de família,uma escultora de personagens

Á minha mãe, sempre a temi demasiado para ter por ela qualquer sentimento a não ser o convencional.

A Xixa, foi para mim a Salvadora, a Companheira de brinquedos, a Encobridora dos meus pecados que podiam pudessem valer-me alguma punição.

A Tia Palmira, foi a mulher que eu Admirei e Respeitei como a nenhuma outra junto de quem me sentia sempre bem, com quem podia falar à vontade,abriro meu coração .

Á minha Avó Maria, eu amei.Convivi com ela talvez mais tempo do que qualquer dos filhos, que a visitavam,mas para quem ele fios sempre a Mãe respeitosamente tratada.
Quando criança parte do meu tempo era passado com ela;adolescente, vivemos em Braga a nossa solidão mútua;como jovem mulher casada, lamento não ter prestado mais atenção às suas palavras.

O meu desejo para elas é que, estejam onde estiverem,estejam em Paz.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

meu pobre Computador

OS INCRÍVEIS LUSITANOS