OS BONS E OS MAUS DAS FITAS

Almocei em Lisboa, no meu sossegado restaurante vegetariano, que nesse dia nada tinha de sossegado. Um ruidoso grupo de cinco pessoas impunham as suas opiniões, ruidosamente, a um sexto conviva, que não tinha tempo de manifestar as suas e muito menos contestar as dos outros.

Se normalmente sou curiosa sobre as conversas de terceiros, aquele grupo fascinou-me.

Os cinco pareciam muito preocupados com as desgraças dos povos oprimidos, dividindo com desembaraço, a humanidade em BONS e MAUS. Como nem sequer eram muito jovens, admirei-me que não compreendessem como essa atitude era insensata.

Podemos dividir os Homens em BONS e MAUS, mas não podemos aplicar tal divisão a a uma Nação.
Um povo, uma raça, uma religião, não pode ser inteiramente boa ou inteiramente má; ou então, estamos ardilosamente a chamar bons àqueles de quem gostamos e malvados aos outros, que não nos agradam: os Bons e os Maus das fitas de cowboys ou policias e ladrões, que víamos na nossa meninice.
Aqueles a quem chamamos maus, podem evocar, e até ter, mil razões para os seus procedimentos; por consequência, nem acham que procedem mal. Os que na nossa alta sabedoria apelidamos de bons, podem não ser assim tão excelentes como se julgam.

Aquele grupo, muito preocupado com a fome no mundo (o que não os tinha impedido de se abastecerem abundantemente no Bufete, de quantos pratos lá havia) classificavam de “maus”, todo o ocidente em geral e, americanos, ingleses e israelitas em particular. Os Bons, eram os povos árabes, indianos e africanos, os eternos espoliados pelos senhores do petróleo.

Apeteceu-me perguntar-lhes quantos deles estariam dispostos a desistir de tudo quanto o petróleo oferece, tudo quanto nos habituamos a fruir, a usar indiscriminadamente, do que não prescindimos. Mas como o sexto conviva a quem pretendiam convencer das suas razões, estava calado, o meu desejo ficou-se por aí e continuei apenas a ouvir.
Defendiam que esses povos espoliados e oprimidos, tinham o direito, não só de se defender, mas até de matar. Como se matar, fosse direito de alguém. Mesmo que o acto de matar seja suportado pela Lei.
Achavam que era correcto possuírem armas nucleares, já que os outros as tinham. Afirmavam que - o seu extremismo era uma lição, pois não hesitavam em sacrificar a vida, em nome da sua causa e do seu Deus. Como se desperdiçar a vida, em defesa seja do que for e principalmente tirando a vida aos outros, fosse alguma coisa que possamos admirar.
Nesta altura, o alvo daquela acesa verbosidade, pagou a conta e voltando-se para os outros, apenas disse. Vocês são burros e saiu.
Concordei com ele, paguei a minha conta e saí. Mas fiquei a pensar no assunto durante muito tempo.

Aquelas cinco pessoas que impunham as suas opiniões, sem admitirem qualquer discussão das mesmas, que falavam ruidosamente, sem a menor consideração pelos outros, tinham todas muito mais de 30 anos.
Tinham já passado a idade em que os jovens são idealistas, querem salvar o mundo, estão quase sempre ao lado dos menos afortunados; mas conservavam aquela particularidade estranha que é apanágio dos jovens: protestam contra os pais, contra os governos, contra a globalização, mas vivem aconchegados no calor dos lares burgueses, usam os carros que os pais lhes dão, frequentam as discotecas usando a farta mesada, e não conheço nenhum/ nenhuma que, pelo menos nas férias, seja uma madre Teresa de Calcutá. ou que parta em missão de boa vontade para confraternizar com os jovens palestinianos.
Felizmente, também conheço jovens que se ocupam a estudar ou a trabalhar: Mas esses, não protestam contra o mundo, contra os povos, não são apologistas da palavra “matar”.Quando muito, protestam contra os professores, se não lhes dão a nota justa, comentam uns com os outros as atitudes dos “cotas”.Normalmente, limitam-se a estudar e a trabalhar.







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