PAUSA PARA UM ALMOÇO
De um anónimo muito sábio
Recebi ontem um telefonema da minha amiga X convidando-me para almoçar com ela em Lisboa. Fomos almoçar ao nosso habituaL restaurante vegetariano, no Chiado. E “como pelo andar da carruagem, se vê quem vai lá dentro” deduzi que iríamos ter a nossa habitual conversa de queixumes familiares.
Não me enganei. Desta vez. tendo ficado a pensar na minha alegre reunião familiar, pela Páscoa, decidira fazer uma surpresa às netas, convidando-as para almoçarem com ela na Baixa; depois iriam ao cinema ver um filme que ela desejava há muito ver e assim passariam uma tarde muito feliz.
As netas tinham inventado uma desculpa tola e tinham recusado o convite sem qualquer consideração pelas boas intenções dela. E até já comprara os bilhetes para o cinema! Não achava eu, ter sido uma desfeita da parte delas e até uma prova da má educação que os pais lhe davam?
Não, eu não achava. O que me parecia era ter sido uma completa falta de realismo, da parte dela. Em primeiro lugar porque não se fazem surpresas a adolescentes. Eles têm a vida de tal modo programada, que não guardam espaços para surpresas. E até nem as apreciam. Em segundo, porque, no fundo, o que ela desejava, era companhia para ver o filme que ela queria ver. E por ultimo e o pior, estava tentando comprar a amizade das netas. Não se importara com os projectos que teriam, se a companhia dela lhes seria agradável (e sei quanto por vezes, ela pode ser irritante) não quisera saber se elas teriam que estudar, ou outro compromisso.
X contínua a não compreender que o afecto, seja ele de que espécie for, não tem cobrança possível; ou então não é afecto. Pensa apenas que as crianças que ela levou à escola, de quem cuidou com ternura, a quem limpou as lágrimas, ao lado de quem se colocou muitas vezes, contra aos pais, não têm por ela qualquer afecto. E isso magoa-a, torna-a amarga e muito infeliz. Não quer pensar que os tempos estão diferentes, que mesmo nós, as avozinhas, já não somos como as nossas mães foram, educámos os filhos de maneira diferente e os nossos netos são ensinados duma forma que por vezes até nos desmoraliza.
A minha amiga viveu sempre e inteiramente, em relação ao meio que a cercava, pelos padrões das pessoas que amava. Quando casou viveu em função do marido, depois viveu para os filhos e agora para os netos. Nunca teve uma vida própria, para além de ser de ser esposa, mãe e avó. atarefada e feliz. Mesmo agora que tem os filhos e filhas bem casados, prósperos, pessoas normais , sem procedimentos estranhos a que muitos chamam modernos ,quando os netos ,uns são adolescentes outros adultos, toda a sua vida continua a girar em volta da família. O seu projecto pessoal é partilhar a vida dos seus familiares. E espera deles a mesma atitude
Receio bem que nunca compreenda que os filhos embora a amem, têm outros horizontes em que ela não entra, e que os netos cresceram.
E os jovens quando crescem, tornaram-se por vezes muito egoístas; gostam de receber, mas o que desejam e não o que escolhemos para eles. Vivem à pressa, correndo para qualquer coisa, esperando sempre novidades da vida.
Educados com muitas facilidades, sem que lhes seja exigido nada em troca, quando não são habituados a compreenderem e a respeitarem tudo o que a Família, os Professores, o Estado, faz por eles, poderão adquirir um carácter mal formado e pouco propenso a afectos genuínos. Porque lhes dão tudo o que os pais desejaram ter e não tiveram, pensam que tudo lhes é devido sem contra partidas. Só por terem nascido, julgam-se com direito a todos os direitos, incluindo pesados sacrifícios dos pais, ao desapego pelos mais velhos: os cotas, os chatos .
Pelo que conheço dos netos da minha amiga não creio que pertençam totalmente a esta espécie de jovens egoístas e indiferentes; não creio mesmo que grande parte da nossa juventude possa ser vista num aspecto tão negativo, que é o resultado duma educação negligenciada. (falo em educação, aquilo que aprendemos em casa,através dos exemplos e ensinamentos da família, e não em instrução, embora essa também possa contribuir, por mal vigiada, para uma índole fútil e desinteressada) Mas há traços que são comuns a todos,mesmo aos que normalmente são gentis e amorosos.
Compete aos mais velhos, aceitar essa modificação de costumes, com prudência e sabedoria não sofrendo demasiado com essa espécie de esquecimento da parte deles, para o qual, algumas vezes nós contribuímos, com a recusa em aceitar atitudes, que no nosso tempo eram inaceitáveis. E acima de tudo saber distinguir o que está verdadeiramente mal nessas atitudes e aquilo que é uma teimosia nossa não aceitar.
Se eu pudesse falar aos netos da minha amiga e a todos os netos do mundo, pedir-lhes-ia para reflectirem: se agora são netos, por vezes olhando os avós como adornos das ocasiões festivas, mais tarde serão eles os avós e talvez apreciem o carinho e a tenção dos seus jovens; se agora lhes basta conviver com os amigos, companheiros de escola, de desportos, de discotecas, mais tarde,apesar de terem os seus amigos,tão velhos e caturras como eles, vão sentir a falta do interesse e juventude dos netos, em quem se revêm; se agora o seu objectivo é correrem atrás da vida, esquecendo quem os rodeia, quando forem avós irão limitar-se a apreciar a vida e desejarão partilhar esses momentos com os mais novos.
A juventude, meus queridos adolescentes,não dura sempre.Um dia ocuparão o nosso lugar de avós logo postos de lado sempre que considerados dispensáveis.Semeiem para colher.
E os avós,com alguma razão desejosos do afecto e atenção dos netos,perguntem a eles próprios,se, quando foram netos,procediam da maneira certa.
É que por vezes esquecemos facilmente o Passado.
Não me enganei. Desta vez. tendo ficado a pensar na minha alegre reunião familiar, pela Páscoa, decidira fazer uma surpresa às netas, convidando-as para almoçarem com ela na Baixa; depois iriam ao cinema ver um filme que ela desejava há muito ver e assim passariam uma tarde muito feliz.
As netas tinham inventado uma desculpa tola e tinham recusado o convite sem qualquer consideração pelas boas intenções dela. E até já comprara os bilhetes para o cinema! Não achava eu, ter sido uma desfeita da parte delas e até uma prova da má educação que os pais lhe davam?
Não, eu não achava. O que me parecia era ter sido uma completa falta de realismo, da parte dela. Em primeiro lugar porque não se fazem surpresas a adolescentes. Eles têm a vida de tal modo programada, que não guardam espaços para surpresas. E até nem as apreciam. Em segundo, porque, no fundo, o que ela desejava, era companhia para ver o filme que ela queria ver. E por ultimo e o pior, estava tentando comprar a amizade das netas. Não se importara com os projectos que teriam, se a companhia dela lhes seria agradável (e sei quanto por vezes, ela pode ser irritante) não quisera saber se elas teriam que estudar, ou outro compromisso.
X contínua a não compreender que o afecto, seja ele de que espécie for, não tem cobrança possível; ou então não é afecto. Pensa apenas que as crianças que ela levou à escola, de quem cuidou com ternura, a quem limpou as lágrimas, ao lado de quem se colocou muitas vezes, contra aos pais, não têm por ela qualquer afecto. E isso magoa-a, torna-a amarga e muito infeliz. Não quer pensar que os tempos estão diferentes, que mesmo nós, as avozinhas, já não somos como as nossas mães foram, educámos os filhos de maneira diferente e os nossos netos são ensinados duma forma que por vezes até nos desmoraliza.
A minha amiga viveu sempre e inteiramente, em relação ao meio que a cercava, pelos padrões das pessoas que amava. Quando casou viveu em função do marido, depois viveu para os filhos e agora para os netos. Nunca teve uma vida própria, para além de ser de ser esposa, mãe e avó. atarefada e feliz. Mesmo agora que tem os filhos e filhas bem casados, prósperos, pessoas normais , sem procedimentos estranhos a que muitos chamam modernos ,quando os netos ,uns são adolescentes outros adultos, toda a sua vida continua a girar em volta da família. O seu projecto pessoal é partilhar a vida dos seus familiares. E espera deles a mesma atitude
Receio bem que nunca compreenda que os filhos embora a amem, têm outros horizontes em que ela não entra, e que os netos cresceram.
E os jovens quando crescem, tornaram-se por vezes muito egoístas; gostam de receber, mas o que desejam e não o que escolhemos para eles. Vivem à pressa, correndo para qualquer coisa, esperando sempre novidades da vida.
Educados com muitas facilidades, sem que lhes seja exigido nada em troca, quando não são habituados a compreenderem e a respeitarem tudo o que a Família, os Professores, o Estado, faz por eles, poderão adquirir um carácter mal formado e pouco propenso a afectos genuínos. Porque lhes dão tudo o que os pais desejaram ter e não tiveram, pensam que tudo lhes é devido sem contra partidas. Só por terem nascido, julgam-se com direito a todos os direitos, incluindo pesados sacrifícios dos pais, ao desapego pelos mais velhos: os cotas, os chatos .
Pelo que conheço dos netos da minha amiga não creio que pertençam totalmente a esta espécie de jovens egoístas e indiferentes; não creio mesmo que grande parte da nossa juventude possa ser vista num aspecto tão negativo, que é o resultado duma educação negligenciada. (falo em educação, aquilo que aprendemos em casa,através dos exemplos e ensinamentos da família, e não em instrução, embora essa também possa contribuir, por mal vigiada, para uma índole fútil e desinteressada) Mas há traços que são comuns a todos,mesmo aos que normalmente são gentis e amorosos.
Compete aos mais velhos, aceitar essa modificação de costumes, com prudência e sabedoria não sofrendo demasiado com essa espécie de esquecimento da parte deles, para o qual, algumas vezes nós contribuímos, com a recusa em aceitar atitudes, que no nosso tempo eram inaceitáveis. E acima de tudo saber distinguir o que está verdadeiramente mal nessas atitudes e aquilo que é uma teimosia nossa não aceitar.
Se eu pudesse falar aos netos da minha amiga e a todos os netos do mundo, pedir-lhes-ia para reflectirem: se agora são netos, por vezes olhando os avós como adornos das ocasiões festivas, mais tarde serão eles os avós e talvez apreciem o carinho e a tenção dos seus jovens; se agora lhes basta conviver com os amigos, companheiros de escola, de desportos, de discotecas, mais tarde,apesar de terem os seus amigos,tão velhos e caturras como eles, vão sentir a falta do interesse e juventude dos netos, em quem se revêm; se agora o seu objectivo é correrem atrás da vida, esquecendo quem os rodeia, quando forem avós irão limitar-se a apreciar a vida e desejarão partilhar esses momentos com os mais novos.
A juventude, meus queridos adolescentes,não dura sempre.Um dia ocuparão o nosso lugar de avós logo postos de lado sempre que considerados dispensáveis.Semeiem para colher.
E os avós,com alguma razão desejosos do afecto e atenção dos netos,perguntem a eles próprios,se, quando foram netos,procediam da maneira certa.
É que por vezes esquecemos facilmente o Passado.
Comentários
Enviar um comentário