A MARIA E EU
As duas fotografias representam duas raparigas de quinze anos. Duas raparigas com sonhos, expectativas, receios, desejos, talvez muito semelhantes. A diferença é que entre ambas decorrem 57 anos. Ao procurar fotografias minhas para um trabalho, deparei com estas dos meus 15 anos e isso recordou-me que , a mais nova das minhas netas, Maria, tem exactamente essa idade. Procurei fotografias dela e acabei perguntando a mim própria se a diferença seria assim tão grande entre nós.Sobre certos aspectos é enorme.
A Maria nasceu e foi criada numa grande cidade, capital do país, enquanto eu, muito cedo fui viver para uma pequena e super conservadora cidade da província, com regras bem estabelecidas quanto ao lugar da família na sociedade e ao papel dos vários membros que a compunham.
Os pais da Maria são abertos, deixam-na viver a sua vida, com um mínimo de restrições. Os meus, adaptaram-se depressa aos usos e costumes, com os quais concordavam inteiramente.
Ela, dentro dum limite, pode fazer o que deseja; eu, muito cedo compreendi que devia fazer o que os outros queriam.
À Maria ninguém exige nada, a não ser que estude e seja uma boa aluna. Pode escolher o futuro que desejar, ser o que desejar ser, proceder, dentro da normalidade, como quiser. Ninguém lhe lembra insistentemente como deve comportar-se perante os mais velhos, num evento, com os amigos (com a certeza que teria uma séria repreensão no regresso, se não cumprisse os preceitos estabelecidos)
Eu fui preparada par um único fim: casar-me, ter filhos, cuidar da minha família, governar a minha casa, ser boa anfitriã, tocar piano e falar francês, bordar a matiz, a ponto cruz, fazer na perfeição ponto sombra. Era necessário ter um mínimo de cultura geral e esperava-se que tivesse bom senso suficiente para ser feliz com esses louváveis atributos Comparada com a vida da minha neta Maria, a minha, aos 15 anos, parece-me ter sido uma vida muito “atrofiada”
Mas na altura, nem eu nem as minhas amigas que tinham vidas iguais, achávamos isso. Desejávamos é claro, ter mais liberdade, mas aceitávamos que não fosse assim.Resmungávamos contra as regras estabelecidas pelos pais: mas no fundo pensávamos que talvez eles tivessem razão. E considerávamos que éramos largamente recompensadas com as alegres diversões que nos eram facultadas.
Olhando a foto que tirei com o meu primeiro vestido de baile, (que a minha neta e as netas de todo o mundo talvez achem “careta” ), recordo os dias que antecederam esse acontecimento: a compra do tecido, as provas na modista, as conversas maravilhosas entre nós raparigas.
Penso com certa tristeza que a Maria jamais sentirá essa emoção “careta”, antiquada, e que nem sentirá a alta dela.
Essa época da minha vida, com todos os seus condicionamentos, é uma parte muito doce da minha “Caixa de Rebuçados”Durante os momentos de insónia que a “Idade do Ouro” traz, ou nos espaços que dedico a repensar a minha vida , essas recordações adoçam a parte amarga que ela teve.
Que terá a Maria para recordar, quando os seus quinze anos estiverem à mesma distância? Desejo, com todo o amor que sinto pelas minhas netas, que elas vão enchendo, pouco a pouco, com momentos felizes, a sua “Caixa de Rebuçados”.Quem não tem felizes memórias do Passado,enfrenta com muita tristeza o Futuro
A Maria nasceu e foi criada numa grande cidade, capital do país, enquanto eu, muito cedo fui viver para uma pequena e super conservadora cidade da província, com regras bem estabelecidas quanto ao lugar da família na sociedade e ao papel dos vários membros que a compunham.
Os pais da Maria são abertos, deixam-na viver a sua vida, com um mínimo de restrições. Os meus, adaptaram-se depressa aos usos e costumes, com os quais concordavam inteiramente.
Ela, dentro dum limite, pode fazer o que deseja; eu, muito cedo compreendi que devia fazer o que os outros queriam.
À Maria ninguém exige nada, a não ser que estude e seja uma boa aluna. Pode escolher o futuro que desejar, ser o que desejar ser, proceder, dentro da normalidade, como quiser. Ninguém lhe lembra insistentemente como deve comportar-se perante os mais velhos, num evento, com os amigos (com a certeza que teria uma séria repreensão no regresso, se não cumprisse os preceitos estabelecidos)
Eu fui preparada par um único fim: casar-me, ter filhos, cuidar da minha família, governar a minha casa, ser boa anfitriã, tocar piano e falar francês, bordar a matiz, a ponto cruz, fazer na perfeição ponto sombra. Era necessário ter um mínimo de cultura geral e esperava-se que tivesse bom senso suficiente para ser feliz com esses louváveis atributos Comparada com a vida da minha neta Maria, a minha, aos 15 anos, parece-me ter sido uma vida muito “atrofiada”
Mas na altura, nem eu nem as minhas amigas que tinham vidas iguais, achávamos isso. Desejávamos é claro, ter mais liberdade, mas aceitávamos que não fosse assim.Resmungávamos contra as regras estabelecidas pelos pais: mas no fundo pensávamos que talvez eles tivessem razão. E considerávamos que éramos largamente recompensadas com as alegres diversões que nos eram facultadas.
Olhando a foto que tirei com o meu primeiro vestido de baile, (que a minha neta e as netas de todo o mundo talvez achem “careta” ), recordo os dias que antecederam esse acontecimento: a compra do tecido, as provas na modista, as conversas maravilhosas entre nós raparigas.
Penso com certa tristeza que a Maria jamais sentirá essa emoção “careta”, antiquada, e que nem sentirá a alta dela.
Essa época da minha vida, com todos os seus condicionamentos, é uma parte muito doce da minha “Caixa de Rebuçados”Durante os momentos de insónia que a “Idade do Ouro” traz, ou nos espaços que dedico a repensar a minha vida , essas recordações adoçam a parte amarga que ela teve.
Que terá a Maria para recordar, quando os seus quinze anos estiverem à mesma distância? Desejo, com todo o amor que sinto pelas minhas netas, que elas vão enchendo, pouco a pouco, com momentos felizes, a sua “Caixa de Rebuçados”.Quem não tem felizes memórias do Passado,enfrenta com muita tristeza o Futuro
Te sigo, un beso.
ResponderEliminarMar