EM " DEFESA DAS DONAS DE CASA"



Gosto de conviver com toda a gente; com gente da minha idade e com gente nova; gosto de ouvir as afirmações arrojadas das jovens mulheres; já gosto menos de ouvir o desdém, entre amigável e o de pena, com que falam das mulheres, cuja única profissão foi a de “donas de casa”
Muitas delas pensam que a mulher que adoptou como profissão cuidar da casa, do marido, dos filhos, dos cães e dos gatos, dos passarinhos, não faz nada na vida, ou no mínimo, nada que valha mencionar; e que por não ter uma profissão, não tem qualquer estatuto.
Mas o que é uma PROFISSÃO? Fui ao dicionário e li: actividade remunerada que se exerce regularmente e para a qual é preciso uma certa formação; emprego; trabalho.
É na palavra remunerada que está toda a diferença. Porque a não ser aquelas privilegiadas que exercem uma profissão para a qual têm uma inclinação especial, a única diferença que existe entre a mulher que trabalha fora de casa e aquela que cuida do marido, da casa e dos filhos, é o salário.
As minhas jovens amigas modernas agitam, ufanas, o leque da CARREIRA. Mas quantas mulheres têm verdadeiramente uma carreira a que se dediquem e que lhes dê prazer?
Alegam que as mulheres donas de casa não tinham independência, nem podiam fazer o que desejavam.
Mas quantas mulheres que trabalham têm verdadeira independência e quem é tão insensato que imagine poder fazer sempre o que deseja?
Pensam que ser apenas dona de casa é sinal de falta de cultura.
É acima de tudo contra esta ideia errada, muito usual, sobre a mulher dona de casa, que eu levanto a minha voz e que mantenho acesos debates com as minhas jovens colegas de sexo.
Nos meus tempos A.C, também eu ficava amargurada por não ter uma profissão e, considerava-me ignorante por não possuir qualquer grau académico.
Reflectindo, cheguei à conclusão que ter ou não ter cultura, nada tem que ver com ser dona de casa ou ter uma profissão.
Uma dona de casa, que não faz mais nada do que limpar o pó, lavar a loiça, cozinhar, tratar dos filhos, pode ter uma vastíssima cultura, enquanto uma excelente profissional pode ser uma profunda ignorante.
Ser culto, para quem tiver uma base mínima onde se apoiar, é um estado de alma, é o desejo constante de saber os porquês e os como , é o prazer enorme de ler, de ouvir, de observar. E esse estado de alma é um dom que o Criador dá a algumas pessoas, sejam elas brilhantes profissionais, trabalhadores rurais, nobres, empregados de balcão ou simples donas de casa. Desde que tenham tido esse mínimo de habilitações a que todo o ser humano tem direito.
Vão dizer que, por pertencer à tribo, “puxo a brasa à minha sardinha”.
Enganam-se.Limito-me a dizer que tudo na Vida tem o seu lugar, as suas vantagens e inconvenientes.
Ser dona de casa, simplesmente dona de casa, não era assim tão mau. Talvez não fossem mulheres “realizadas”, nem tentassem, mesmo só em pensamento, equiparar-se aos homens ou desafiá-los. Mas também nenhuma delas era intelectual ou estava desejosa de abraçar uma carreira onde brilhasse como estrela. (porque se o fosse, seguiria em frente e , mesmo nesse tempo, nada a impediria).
Eram mulheres que estavam presentes quando os filhos voltavam da escola, presentes para os consolarem quando caíam e esfolavam os joelhos, para os deixarem rapar os tachos quando faziam a marmelada e os doces de Inverno, que tinham tempo e paciência para lhes ler uma história quando os iam deitar.
Sei que estou a falar no “óptimo” na vida de uma dona de casa. Existiam também mulheres escravas, mulheres desprezadas, mulheres cuja vida era duma mediocridade aflitiva.
Mas será que, com toda a independência conquistada, mulheres escravas, desprezadas, com uma existência medíocre, deixaram de existir?
Aparte as mulheres que trabalham no que gostam, por vocação, com alegria, o que acontece às outras, mesmo às minhas jovens interlocutoras de acesas palestras? Trabalham em casa como nós trabalhávamos e trabalham nos empregos. Aturam os maridos como nós aturávamos e também os patrões, os colegas, o automobilista que lhe buzina por ela ser mulher.
É verdade que os filhos das mulheres dos anos cinquenta, eram filhos e não camaradas;talvez não tivessem com as mães a familiaridade que hoje se vê, não as tratavam pelo nome próprio. Mas não entravam e saíam de casa sem dizer “água vai”, não se drogavam e, pelo menos aparentemente, tratavam os pais com respeito. E esse respeito, mesmo sendo aparente, era bem melhor do que a troca de palavras agressivas que se ouve hoje, entre pais e filhos.
Talvez as mães e os pais do passado não fossem ternamente amados pelos filhos. Mas não eram usados como fonte de rendimentos ou obrigados a oferecer-lhes hotelaria e serviços até esses filhos terem cabelos brancos. Os netos, eram netos e não segundos filhos e a ajuda prestada era voluntária e não coerciva.
Não quero, minhas queridas e jovens amigas contestatárias, ser agressiva, dizer que naqueles tempos tudo era melhor.Com sabedoria Budista, direi que o Caminho do Meio é o perfeito.
E às minhas amigas que foram unicamente esposas, mães e donas de casa, e que até ficam um pouco envergonhadas por isso, direi apenas que se sintam felizes por o terem sido. Estão casadas, com bons e maus momentos, há mais de 50 anos; têm filhos, netos e até bisnetos; uma sólida família que sabe navegar entre escolhos chegando sempre ao porto de abrigo.
Desejemos às mulheres do ano 2006 que consigam o mesmo.

Comentários

  1. Excelente Martina, excelente. Eres tierna y razonable.

    Un abrazo muy fuerte.

    Mar

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