A TERTÚLIA DOS AVÓS



Periódicamente, reunimo-nos com outros colegas do meu marido e as respectivas consortes no café, para charlar.Mas com os anos, a nossa tertúlia tem perdido efectivos e neste momento estamos reduzidos a 4 casais e um viuvo Como ínicio da reunião,as conversas giram sobre as respectivas doenças Aliás,parece ser um tema muito ao gosto dos portugueses.Quando alguns se reunem,começam por falar nas doenças e em seguida abordam o tema das comidas;restaurante para ali, receitas para aqui,o que se comeu ontem, o que iremos comer amanhã.Voltando à tertúlia dos avós.
Ao tema saúde, segue-se a politica e como somos velhos prudentes, que sabem que politica e religião só deve ser discutido se estiverem todos de acordo,o tema esgota-se rápidamente e chega a vez do Boletim Meteriolágico.
Todos acham que está demasiado frio ou chuva excessiva Concordam que a humidade afecta os nossos pobres ossos e existe o perigo duma gripe,coisa muito má para a nossa idade (por momentos volta-se tema saúde,com grande destaque para a coluna).
E finalmente, os homens entram no seu assunto preferido:o tempo em que todos foram impecáveis chefes de máquinas,como sofriam. comparados com a “malta de agora,uns lordes!".
É altura de nós, as esposas,falarmos dos nossos .Esgotado o tema dos achaques, que foi comentado em comum,resta-nos os outros: se estamos ou não contentes com as russas,ucranianas, brasileiras, que vêm ajudar na lida da casa:o que nos pareceu fulana e cicrana na ultima vez que a vimos;a televisão em geral e as telenovelas em particular e dos netos,principalmente dos netos.
Porque este grupinho entre os setenta e os 84 anos,tem uma coisa em comum além das doenças e da profissaõ dos maridos:os netos. E há avós para todos os géneros :avós galinha, avô que é cego,os duros,divididos entre os que acham os netos muito mal criados, mas não comentam as causas e os que atribuiem esse destempero aos pais,principalmente às noras e aos genros.
Um dos casais é priviligiado: tem netos que ultrapassaram a idade de serem criticados.Agora, só se criticassem os bisnetos. Mas esses anjinhos,façam o que fizerem,são seres divinos de quem nada há a dizer .( e eu bem gostaria de ter um, que fosse só mimar,sem encontrar no fundo do meu pensamento alguma coisa que, se fosse mãe deles, modificaria)
Eu, encontro-me no limbo.Três dos meus netos já são suficientemente crescidos para saberem o preço duma atitude errada.Os outros dois, como dizia Maria Amália de Carvalho: uma
criança é educada até aos sete anos.Se nessa idade não tiverem sido lançadas as sementes e adubada a terra,dificilmente, depois se conseguirá fazer alguma coisa dela. Mas estes meus netos mais novos, a quem ainda dá vontade de ter ao colo (o que não faço,porque recordo muito bem quanto me horrorizavam aos quinze anos ,as lamechices dos adultos ) são certinhos. Vivem no seu Tempo,que é muito diferente do tempo dos pais e ainda mais do meu.
Que direito temos nós, Grands Pères, principalmente aqueles que sabem servirem de apoio sem transformarem-se em babysiters, a fazer criticas, e dar sugestões?Limitemo-nos ao prazer que eles nos dão.
Pessoalmente,não me acho com o direito de criticar, nem os netos, nem os filhos.Se eu própria falhei tantas vezes na maneira de educa-los,como poderia agora criticar a maneira como educam os deles? Ainda voltarei a falar da Tertúlia dos Avós.Perdi-me com os netos e não falei na boa amizade que nos une quase há cinquenta anos.

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