TEMPO PARA VIVER TEMPO PARA MORRER



Quase sempre sirvo de confessor/psicólogo à minha amigaX.Digo confessor, porque nas suas queixas contra o Mundo, muitas vezes ela confessa a sua horrível culpa nas horríveis coisas que lhe acontecem; somos amigas há tantos anos, conheço-a tão bem, que maior parte das vezes, limito-me a ouvi-la,sabendo quanto lhe é benéfico abrir o coração e falar. Mas desta vez passei-me, como dizem os meus netos.
No dia 31 de Dezembro fez 75 anos, e agora o grande problema é o pouco tempo que lhe resta para viver. Fez testamento, o que há muito lhe aconselho a fazer, pelo menos dos seus bens pessoais; nada mais desagradável do que imaginar os nossos descendentes,embaraçados na escolha.
Além do testamento, faz a vida negra ao marido. às filhas aos filhos e até aos netos, com a lenga-lenga de “já não tendes avó para muito tempo” Para mim,sobra: “as coisas que perdi na vida. Não vou ter a sorte que tu tiveste,indo ao casamento de uma neta”
Ao principio ainda levei a rir, lembrando-lhe as belas viagens pela Europa, os Cruzeiros pelo Mediterrâneo, a viagem ao Egipto. Mas como as lamentações não cessassem, disse-lhe para comprar um pouco de sarna para se coçar, já que o bom Deus não lhe mandava zona.
E quase sem paciência, acabei por lhe perguntar porque não passava os seus últimos dias a fazer um pouco de voluntariado nos nossos hospitais. Teria logo dois benefícios.Prestaria uma ajuda tão necessária, e talvez compreendesse o que é a verdadeira infelicidade e o que são problemas reais.

Esperando que X reflicta nas minhas palavras, pensei que também para mim, há Tempo de Viver e Tempo de Morrer.
Ao meu tempo de Viver, que foi excelente, sucede-se o Tempo de Morrer. Não quer dizer que seja já, ou que eu seja suficientemente velha para não esperar outra coisa.Mas é altura de terminar tarefas inacabadas
Uma dessas tarefas é
dar um andamento mais rápido à História da Família que ando a escrever.Tenho sido um pouco preguiçosa porque preciso de ir à Torre do Tombo procurar os registos do baptismo, casamento e morte dos meus trisavós, uma tarefa não difícil, mas trabalhosa.
Há um cálculo que se usa para situar os acontecimentos mais ao menos na data. Usando esse cálculo.situo o nascimento do meu trisavô, entre 1810 e 1820.Depois é só procurar…
Vou apressar-me. Aliás, já falta pouco,pois já falei dos meus tios,das suas vidas, da sua prole,dos nossos mortos, do nossos jovens.Falta realmente identificar o ano do baptismo,casamento e morte, desses avós dos quais já nem o pó deve restar.Depois, será só ir narrando os factos actuais.
Para todos, atingida a maturidade,deve existir um sádio e sincero periodo de Reflexão.Mas para aqueles que por razões naturais, se aproximam do Fim.ébom que esse periodo seja sereno, de tranquilidade e se possivel,de completa Paz .

Felizmente poucas pessoas lêem o que escrevi, porque iriam decerto achar-me mórbida e fatalista.
Sou apenas prática e acredito sinceramente que há Tempo Para Viver e Tempo para Morrer

Comentários

  1. Querida Martina, gracias por tus palabras tan dulces. Hoy es mi cumpleaños y lo que he leido de ti ha sido un regalo. Preténdía estar el día de hoy por Portugal, ¿sabes?, pero un cambio de trabajo (a mejor) me lo ha impedido. Así que pospongo mi viaje, porque como tu dices también hay un tiempo para todo. Eres un encanto y mucha ternura.

    Muchos besos.

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