A MINHA AVÓ MARIA

A ALDEIA DAS CARREIRAS TORRES VEDRAS
O ANO PRIVADO da minha avó Maria começava no dia de TODOS OS SANTOS com o almoço de familia. Em casa dos outros lavradores realizava-se a tradicional Matança do Porco;como os meus avós não suportavam tal costume,compravam o porco já morto,pronto a prepararem com ele os presuntos,os enchidos e o toucinho.A azáfama a alegria e a diversão, que tal ocasião sempre faculta, era a mesma e evitavam o barbaro espectáculo que ainda hoje se realiza em grande parte das nossas aldeias.
Filhos,noras e netos, acomodados desde a véspera no Casal da Cerca,a minha avó não se enfadava com o trabalho ou com a alteração aos seus hábitos serenos; mas fazia questão que fossem em romagem ao cemitério onde repousavam os nossos parentes falecidos. Embora não fosse fanática praticante da Religião Católica,e jamais impondo aos filhos que partilhassem as suas ideias,havia práticas que ela seguia inflexivelmente e que exigia dos que estavam sua na casa, a acompanhassem. Explicava: ir ao cemitério ornamentar com flores as supulturas, não significava prestar culto a um amontoado de ossos,parte do qual estava transformado em pó.Iam prestar culto público a tudo o que eles tinham representado.
Na opinião dela,não basta dizer que recordamos, para nós, aqueles que já partiram:è preciso mostrar que eles foram dignos que os recordássemos.

E aqueles que o não foram,preguntarão os descrentes,aqueles que nada nos dizem? É muito infeliz a pessoa que, entre os seus mortos, não lamenta a perda de alguem que amou, não recorda com saudade um amigo de quem sente a falta, que não tem um sentimento de tolerância para aqueles que foram menos BONS De facto, essa pessoa não precisa de prestar culto a ninguém a não ser a ela propria.

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