PARA A MINHA NETA SARA
A casa onde nasceram os seus filhos
Querido bocadinho do meu ADN.
Prometi que escreveria qualquer coisa que provocasse o teu riso. Espero que a minha narração consiga que sorrias.
Estamos em 1915.Os teus bisavós paternos viviam em Lisboa há quinze anos, na rua de S.Cristovão, exactamente a mesma rua onde tu e os teus irmãos,o tio João eos filhos dele nasceram, na A.E.C.
Embora continuassem profundamente enraizados no mundo rural e tencionassem regressar à Aldeia logo que o avô Ferreira se reformasse, tinham-se adaptado à cidade e aos seus costumes. Ninguém na família pode explicar porquê, mas eram grandes apreciadores de teatro frequentando normalmente a Sociedade de Cultura e Recreio da qual o meu avõ era sócio fundador.
Mas o grande acontecimento cultural do ano era a visita ao Teatro Nacional D. Maria, para ssistirem à estreia duma peça de Shakespeare,geralmente uma dos mais dramáticas.
A avó Maria do Rosário descrevia duma forma muito pitoresca, a grande aventura que era esseacontecimento.
O avô Joaquim Francisco fazia questão que toda a familia tomasse parte nele,incluindo a filha já casada e o genro;incluidos estavam tambem os filhos pequenos, ama do mais novo (o tio Luís) e a criada, que avó Maria se recusava a deixar sózinha em casa.
Para a ocasião, o avô comprava um camarote, e a avó e a criada preparavam o farnel e as mantas para os mais pequenos dormirem, na antecâmara que todos os camarotes possuíam.
Pelas seis da tarde,o avô mandava um “galego” ( homens vindos da Galiza,que permaneciam nas ruas prontos a prestar qualquer serviço ) ir buscar um trem ao Rossio, no qual embarcavam os meus avós, a tia Gracinda,o vosso avô Fernando que tinha 6 anos, a ama do tio Luís e a doméstica.
Caminhando, iam o marido da tia Gracinda, Abílio, e o tio Henrique,com catorze anos.
O trem descia ao Largo do Caldas, seguia pela rua da Madalena, rua da Betesga, em direcção ao Rossio, chegando pelo lado norte, ao Teatro Nacional D. Maria. Parava em frente à colunata do teatro,onde o tio Abílio e o tio Henrique os esperavam.
Com o meu avô à frente e os outros transportando as crianças, o cesto com o farnel e as mantas, entravam no teatro e instalavam-se no camarote, para assistir à peça.
O tio Henrique contava que era um momento muito embaraçoso para ele,pois embora já trabalhasse e fosse tratado como homem feito,não passava dum jovem, que como todos os jovens,pensam sempre que certas atitudes dos pais são muito inconvenientes.
A aventura, que tinha lugar uma ou duas vezes por ano, entusiasmava todos,incluindo o tio Luís que tinha um ano mas gostava das luzes, a ama e a criada, que nada interessadas nos amores de Romeu e Julieta ou nos ciúmes de Otelo, dormiam junto das crianças durante todo o evento.
Conseguirás imaginar a cena, no momento em que estamos e não há 92 anos?
Estamos em 1915.Os teus bisavós paternos viviam em Lisboa há quinze anos, na rua de S.Cristovão, exactamente a mesma rua onde tu e os teus irmãos,o tio João eos filhos dele nasceram, na A.E.C.
Embora continuassem profundamente enraizados no mundo rural e tencionassem regressar à Aldeia logo que o avô Ferreira se reformasse, tinham-se adaptado à cidade e aos seus costumes. Ninguém na família pode explicar porquê, mas eram grandes apreciadores de teatro frequentando normalmente a Sociedade de Cultura e Recreio da qual o meu avõ era sócio fundador.
Mas o grande acontecimento cultural do ano era a visita ao Teatro Nacional D. Maria, para ssistirem à estreia duma peça de Shakespeare,geralmente uma dos mais dramáticas.
A avó Maria do Rosário descrevia duma forma muito pitoresca, a grande aventura que era esseacontecimento.
O avô Joaquim Francisco fazia questão que toda a familia tomasse parte nele,incluindo a filha já casada e o genro;incluidos estavam tambem os filhos pequenos, ama do mais novo (o tio Luís) e a criada, que avó Maria se recusava a deixar sózinha em casa.
Para a ocasião, o avô comprava um camarote, e a avó e a criada preparavam o farnel e as mantas para os mais pequenos dormirem, na antecâmara que todos os camarotes possuíam.
Pelas seis da tarde,o avô mandava um “galego” ( homens vindos da Galiza,que permaneciam nas ruas prontos a prestar qualquer serviço ) ir buscar um trem ao Rossio, no qual embarcavam os meus avós, a tia Gracinda,o vosso avô Fernando que tinha 6 anos, a ama do tio Luís e a doméstica.
Caminhando, iam o marido da tia Gracinda, Abílio, e o tio Henrique,com catorze anos.
O trem descia ao Largo do Caldas, seguia pela rua da Madalena, rua da Betesga, em direcção ao Rossio, chegando pelo lado norte, ao Teatro Nacional D. Maria. Parava em frente à colunata do teatro,onde o tio Abílio e o tio Henrique os esperavam.
Com o meu avô à frente e os outros transportando as crianças, o cesto com o farnel e as mantas, entravam no teatro e instalavam-se no camarote, para assistir à peça.
O tio Henrique contava que era um momento muito embaraçoso para ele,pois embora já trabalhasse e fosse tratado como homem feito,não passava dum jovem, que como todos os jovens,pensam sempre que certas atitudes dos pais são muito inconvenientes.
A aventura, que tinha lugar uma ou duas vezes por ano, entusiasmava todos,incluindo o tio Luís que tinha um ano mas gostava das luzes, a ama e a criada, que nada interessadas nos amores de Romeu e Julieta ou nos ciúmes de Otelo, dormiam junto das crianças durante todo o evento.
Conseguirás imaginar a cena, no momento em que estamos e não há 92 anos?
que maravilla que tu nieta pueda recibir este regalo, Martina.. Si yo estuviera en su lugar, creo que mostraría a todas mis amigas el blog de mi abuela :)
ResponderEliminarCon mucho placer voy a contarte cosas acerca de Chile... serán cosas "normales", yo no soy poetisa, sólo soy una persona que cuenta lo que tiene dentro casi sin hacer un filtro razonable :) Agradezco con emoción tus palabras en mi blog...
Proximamente te comenzaré a ilustrar Chile a través de mis ojos :)
beijinhos!!
Pilar
Martina, un beso desde España, me encanta leerte.
ResponderEliminarAvó,
ResponderEliminarPronto! Desta é que vou rebentar de orgulho.
Vou mandar um mail a todos os meus amigos para verem o teu blog. Aqui no meu emprego toda a gente acha o máximo que tu tenhas um blog! A maioria diz : "A minha avó nem sabe o que é um computador."
As tuas descrições são tão vivas e emocionantes! Muito obrigada, vó.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminarTenho a sensação de olhar pela janela de uma familia que mora na mesma casa ao longo das decadas e ver tudo que se passava là-dentro. Fascinante e maravilhoso!
ResponderEliminarPS - A Sara é a única desta família que eu já conheci pessoalmente.
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