CONVERSA COM UMA FILHA





Em “pausa para o café” conversei com uma mãe e avó, triste por os filhos já não precisarem dela. Ontem, conversei com uma filha, amargurada por a mãe ter invadido a sua vida.
Estávamos festejando o aniversário dos netos da minha amiga X. Festa dupla, pois era o aniversário dos gémeos da Joana que eu conheço muito bem. Tem mais três filhos 2 pré adolescentes 8 e 12 anos e uma adolescente com quinze. Maior parte dos convidados tinha partido, ficando apenas os mais íntimos, ou seja eu e o meu marido, o irmão e a cunhada. Os homens tinham ficado na sala a ver futebol na televisão, a minha amiga tinha ido para o quarto dos gémeos brincar com eles e na varanda, gozando o fresco do fim de tarde, ficáramos nós, eu e as jovens mulheres. A festa tinha sido muito agradável, as crianças tinham-se portado razoavelmente, a comida fora óptima; não havia pois razão para aquele ar melancolico que Joana ostentava. Não tenho por costuma fazer perguntas sobre factos evidentes, mas a filha de X parecia-me tão inquieta, que acabei por as fazer. Contou-me que o problema era a mãe. Estava muito grata, pela grande a ajuda que a mãe lhe dera na criação dos filhos. Mas a verdade é que pouco a pouco, fizera da casa da filha a sua casa, interferia em todos os problemas que diziam respeito aos netos, criticava as decisões que ela e o marido tomavam, como por exemplo primitirem que fossem ou não para campos de férias ou simplesmente para casa de amigos. Começava a lamentar-se porque os netos adolescentes estavam a fugir ao seu controle, acusando a filha de ser culpada disso. A situação começava a ficar insustentável mesmo entre o casal, porque o marido expressava o seu desagrado pelas constantes interferências e dizia ser necessário pôr-lhe fim. Ora entre o dizer e o fazer, havia todo o embaraço da situação.
Conheço muito bem X e muitas vezes chamei a atenção dela para a diferença entre AJUDAR e APODERAR. Ajuda é auxilio, apoio, sem nunca ultrapassar esses limites. Deve ser dada com amor, jamais tendo em mente o retorno, seja ele qual for. Ou então, se não formos capazes de o fazer com dedicação e desinteresse total, mais vale não a oferecer.E muito menos, fazer dessa ajuda uma chantagem que irá infernizar a vida de quem a usufruiu.
Entre a minha amiga com quem tomo café às onze horas e X há uma semelhança e uma diferença.
A semelhança é que nenhuma delas soube criar vida própria. Vivem através dos filhos, das noras dos genros, dos problemas deles, da escola e dos amigos dos netos. A diferença é que a primeira embora lamente não continuar ligada umbilicalmente aos filhos, parece ter compreendido que não o deve fazer e acredito que tentará ter outros interesses.
X é muito mais difícil: Crê sinceramente dever fazer comentários sobre tudo e em todas as ocasiões e que é seu dever endireitar a vida de toda a gente.

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