AS TOUPEIRAS DE MAXIMINOS
Enquanto vivi na Quinta de Maximinos, em Braga, ocupava os meus ócios passeando entre as Laranjeiras e lendo Cesário Verde à sombra duma macieira. Sentia-me uma das heroínas de Júlio Dinis e até a casa parecia-me semelhante às casas minhotas descritas pelo autor.
Mas a quinta além das flores e do seu ar campestre tinha toupeiras, que desesperavam o caseiro pois não havia campo de milho cujas raízes escapassem à sua voracidade Na verdade, eram tantas que caíam facilmente nas armadilhas e chegaram para dois casacos de peles que a Manela e a Malena usavam com muito orgulho. Eram lindos, dum cinzento azulado e brilhante e o especialista que tratava das peles deixava-as impecáveis.A seguir o Mestre Peleiro cosia-as tão habilmente que mais parecia uma só pele com desenhos naturais.
Mas de facto as toupeiras eram demais e descaradas, fazendo enormes buracos no terreno onde se não tivéssemos cuidado, metíamos o pé e era trambolhão pela certa
Pensando nas toupeiras, ocorreu-me que o meu País, está a perecer-se muito com esse terreno de Maximinos. A grande diferença é que em Maximinos os caseiros apanhavam-nas facilmente, enquanto em Portugal, embora todos saibamos quem são e onde vivem esses animaizinhos de enormes e afiadas garras, continuamos a deixá-los viver troçando de quem paga para que os buracos sejam fechados, rindo-se de nós os tapadores de covas, algumas dessas covas tão grandes que mais parecem a cratera do Arizona.
As toupeiras de Maximinos faziam algum mal, mas forneciam-nos lindas peles e eram a grande aventura dos filhos do caseiro que as caçavam com grande perícia. Às toupeiras de Portugal, não só pagamos os estragos que fazem, como as deixamos percorrer os meandros dos seus túneis mais ao menos disfarçados, certas que não haverá,armadilha,gato ou cobra que as detenha. Riem-se de nós, do Estado, das Leis, da Justiça, com as tocas bem cheias de gostoso farnel
Mas são toupeiras portuguesas e todos sabemos como os portugueses têm jeito para o desenrascanço
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