DE LUTO ME VESTI
Na segunda semana de Maio começaram a chegar mensagens à minha caixa do correio e SMS ao telemóvel, convidando-me a, nos dias 22 e 23,vestir-me de preto, em sinal de luto pelo meu país que agonizava.
No dia 22 nem pensar nisso pois era o V Grande Encontro dos Garraus e o II Capítulo da Confraria dos mesmos Pássaros, não sendo ocasião para alardear mágoas. Mesmo assim, como usei o traje de gala da Confraria: T-shirt e avental, tudo branco com o Garrau negro estampado, vesti-me de luto…à chinesa.
No dia 23 equipei-me a rigor: meias, saia, blusa, tudo mais negro que a noite escura. A Ana e eu fomos correr as ruas de Stª Cruz, ostentando o nosso luto mas parece que pouca gente se apercebeu que o País agonizava . Meia dúzia de gatos-pingados, ou melhor gatas, porque os cavalheiros envergavam as habituais calças de ganga e camisas de meia manga, os parolos vestiam calções e camisolas à estivador e os jovens continuavam a usar os calçanotes meia perna e largos, como os dos palhaços ricos
Eis-me pois de luto por Portugal. Mas que Portugal? Esse pedaço de terra, mar, rios, montanhas, que se estende da Galiza ao Algarve, do Atlântico às terras de nuestros hermanos? Ou por este povo, eu incluída, de gente valorosa como Camões nos apresentou, beneficiando-nos muito, ou o povo pachorrento,pobrete mas alegrete que António Aleixo retratou nas suas quadras; ou a malta de rufias manhosos e madraços sempre prontos ao conto do vigário, a fazer o menos possível, da Grande Lisboa e do Grande Porto? O que não quer dizer que estas aves da família dos abutres não nidifiquem em pacatas vilas e aldeias E que maior parte dos lisboetas e nortenhos não sejam gente honesta e paciente…muito paciente
Não vesti luto por Portugal O meu país já sobreviveu a tanta coisa! A invasões barbaras, muçulmanas, francesas, inglesas (sobre o disfarce de nos virem defender,) a guerras civis, aos desastres da 1ª república, à mordaça cívica do Estado Novo, cuja teoria “ quanto mais desinteressado da coisa pública melhor, foi o seu maior crime, pois amortalhou nos portugueses o exercício da cidadania e a aprendizagem da verdadeira democracia.
Pelo povo português em geral, também não faço luto. Além do hábito do “desenrascanço”, tão apreciado lá fora, temos a faculdade de vivermos sem nos preocupar com possíveis desgraças a não ser quando elas entram mesmo pela nossa porta. Porque estava eu carregada de luto, naquele domingo tão bonito, felicíssima ainda pelo evento da véspera que correra tão bem e onde sentira a família quase unida? Foi então que me lembrei dum discurso de Martin Lhuther King,onde ele dizia
O que mais preocupa não é o grito dos violentos nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem-carácter, nem dos sem-ética.O que mais preocupa é o silêncio dos bons!"
O que mais preocupa não é o grito dos violentos nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem-carácter, nem dos sem-ética.O que mais preocupa é o silêncio dos bons!"
Estou de luto por todos aqueles que trabalham honestamente, que pagam os seus impostos, impostos que lhes proporcionam um mau serviço de saúde, de justiça, de educação, que procuram educar os filhos nos princípios que sabem serem válidos, contra as teorias propostas e defendidas pelos” boys “que cada partido começa a formar nas suas juventudes politizadas, e vão trepando das junta de freguesia às câmaras municipais, fazendo deles deputados e ei-los a fazer leis que nascem coxas e a discutir o sexo dos anjos.Ou então assessores de qualquer departamento que ninguém sabe para que serve, e aos quais, depois, é preciso satisfazer o apetite voraz pela boa vida sem trabalho
Estou de luto por mim, que faço parte dessa multidão silenciosa, que se indigna, que se sente humilhada pelos discursos sem pudor, pelas mentiras descaradas a céu aberto, cada um protegendo mais o outro.
Porque somos nós que pagamos as crises, são os nossos filhos que são agredidos nas escolas. Somos nós que abdicando de tantas coisas que gostaríamos de fazer e de ter equilibramos o orçamento para depois de todas as despesas conseguir alguma poupança que pomos a render e da qual o estado nos cobra logo à cabeça a sua gorda parte. Mas entretanto o Estado, os boys e os seus padrinhos engordam,rindo-se dum povo que dizem servir.
Porque somos nós que pagamos as crises, são os nossos filhos que são agredidos nas escolas. Somos nós que abdicando de tantas coisas que gostaríamos de fazer e de ter equilibramos o orçamento para depois de todas as despesas conseguir alguma poupança que pomos a render e da qual o estado nos cobra logo à cabeça a sua gorda parte. Mas entretanto o Estado, os boys e os seus padrinhos engordam,rindo-se dum povo que dizem servir.
Pensando bem na vergonha do nosso descontentamento, sem nada podermos fazer a não ser carpir em tertúlias de café ou reuniões de família, eu deveria talvez fazer como a rainha Vitória ou Catarina de Mèdicis que quando ficaram viúvas nunca mais abandonaram o preto, eu devia vestir luto toda a vida .
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