A DIFICIL ESCOLHA




Tenho uma casa grande, uma casa que através dos anos fomos enchendo de coisas, necessárias, outras mais que supérfluas.

Como a casa é grande para os dois andantes que somos agora, posso avaliar pela disposição do local onde passamos os nossos ócios. Apesar das televisões (2)
uma em cada extremo da sala,dos sofás bem cómodos à volta da "caixinha dos bonecos" com as respectivas mesinhas de apoio, candeeiro, estantes com variadíssimos objectos, duas peles de vaca a proteger do frio (e a encher a casa de pó) mesmo assim, há um grande espaço livre entre cada um dos nossos reinos. O do meu marido.junto da grande varanda fechada, à qual chamo pomposamente “Jardim de Inverno”. O meu, no extremo oposto..Como o meu marido está quase totalmente surdo só pode ouvir a televisão com o auxilio dos auscultadores o que torna a sala silenciosa. Pelo meu lado, como oiço muito bem, conservo o som ao meu gosto. e deixámos de guerrear por esse motivo. Além disso, cada um vê os programas que quer sem confrontos com o outro. Ele vê os concursos, os noticiários e de vez em quando a Odisseia e o National Gheografic. Eu posso ver à minha vontade os vídeo-filmes em que transformo as fotografias dos acontecimentos da família e amigos, e as minhas séries preferidas sobre os crimes que malvados bandidos cometem e espertíssimos policias desvendam, com o auxilio da Policia Cientifica, que tem mecanismos maravilhosos ao seu dispor para descobrir os ADN’s, o que as vitimas comeram e beberam e qual é o estranho objecto que perfurou um coração. De vez em quando passo pelo Canal História e muitas vezes pelo Mezzo

É justamente quando estou bem instalada e sou obrigada a suportar os intervalos a que nos obrigam os senhores da TV ,que olhando para as paredes que me cercam, penso que devíamos começar a libertar a casa de tanta tralha.

Mas começar por onde? Bem à minha frente está o lindo naperon de renda de Bruxelas, bem protegido por uma moldura de vidro. Esse não.

Comprá mo-lo na Grand Place, em Bruxelas num dos anos em que a praça se transforma em algo de inacreditável beleza. Além disso, o nosso neto André estava connosco o que nos deixou doces recordações. Bem, então os pratos pintados à mão que comprámos em Olhão numa feira de velharias.

Esses também não. Foi tão divertido ver o meu marido e o antiquário num regateio digno dos árabes. Além disso continuamos a gostar muito deles. Então, talvez os quadros a meio ponto, que adquirimos numa "feira de garagem "na Dinamarca.

Nem pensar. Cada vez que olho para eles recordo-me dos inesquecíveis dias que passamos em MOU, na casa dos Madsen, na JutLãndia. Só se for os Pratos de Redondo, comprados quando fomos passar um fim de semana a Moura.com a Odete e com o Manel.

Também não pode ser. Eles recordam-me uma Odete ágil, risonha, sempre alegre e feliz, que a doença de Parkinson transformou numa pessoa quase irreconhecível.

Por agora, não me vou separar de nada.

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